domingo, 2 de agosto de 2009

Dessines-moi um mouton

Excerto do livro "Le Petit Prince" de Saint-Exupéry, meu livro de culto, em tradução brasileira ( sorry!)

Refleti muito então sobre as aventuras da selva, e fiz, com lápis de cor, o meu primeiro desenho. Meu desenho número 1 era assim:





Mostrei minha obra prima às pessoas grandes e perguntei se o meu desenho lhes fazia medo.

Responderam-me: "Por que é que um chapéu faria medo?"

Meu desenho não representava um chapéu. Representava uma jibóia digerindo um elefante. Desenhei então o interior da jibóia, a fim de que as pessoas grandes pudessem compreender. Elas têm sempre necessidade de explicações. Meu desenho número 2 era assim:





As pessoas grandes aconselharam-me deixar de lado os desenhos de jibóias abertas ou fechadas, e dedicar-me de preferência à geografia, à história, ao cálculo, à gramática. Foi assim que abandonei, aos seis anos, uma esplêndida carreira de pintor. Eu fora desencorajado pelo insucesso do meu desenho número 1 e do meu desenho número 2. As pessoas grandes não compreendem nada sozinhas, e é cansativo, para as crianças, estar toda hora explicando.

Como este excerto, há outros fascinantes e controversos que irei transcrevendo por aqui. O objectivo não é dar a conhecer o livro - certa que estou de que todos o conhecem - mas reflectir sobre o tema "arte" e abstracção. Assim como lemos nas entrelinhas, também podemos ver através dos traços. O que vemos é sempre diferente. É pessoal. Muda conforme o momento, o tempo, a luz, o espaço. Muda conforme a nossa idade. Crianças e adultos lêem nas entrelinhas coisas diferentes. Crianças e adultos olham para as imagens de modo diferente. Que tem razão? NINGUÉM e TODOS!