domingo, 2 de maio de 2010

DIA DA MÃE


Nenufares- jardim Botanico- 2010

Pudesse eu, soubesse eu, escrever poemas à minha Mãe, como faz a minha amiga Regina ou o meu irmão Mário, se eu conseguisse traduzir em palavras tudo aquilo que sinto ao pensar nela, ficaria aqui até ao romper da aurora, que não tarda, e mesmo assim não bastaria.

Faz-me tanta falta a minha Mãe.
Fez-me falta logo no dia em que saí de casa para me casar em 1973, e depois quando deixei Lisboa em 1975, mais tarde em Chaves durante dois longos anos sem telefone em casa a 500km de distância, mais os vinte e cinco no Porto,cidade de que ela parecia não gostar e que só visitou duas ou tres vezes. Fez-me muita falta no casamento do meu filho e essa ausencia custou-me muito a perdoar.

Faz-me falta a minha Mãe desde que deixei de lhe telefonar a pedir conselhos, a dar-lhe novidades, a transmitir-lhe boas novas dos filhos, de mim e da nossa vida. Ficava feliz com cada vitória minha, com cada êxito dos meus filhos, elogiava-me e aumentava a minha auto-estima só de a ouvir.

Faz-me falta a minha Mãe desde esse dia - que é hoje o 7º aniversário, 2 de Maio de 2003, quando, pelo telefone, me anunciaram a sua morte aos 84 anos. De repente, o coração falhou. Ainda no Natal em sua casa, fizera um pequeno discurso para toda a família reunida, um discurso demasiado solene e que nos causou calafrios na espinha. Parecia que adivinhava...

Tudo o que sou aprendi ,em parte, com a minha Mãe. Ela adorava ensinar: a coser, a tricotar, a bordar, a passar a ferro com esmero, a cozinhar, a ler romances ou poesia, a interpretar e a apreciar filmes romanticos ou dramáticos, a tocar piano, a ouvir Chopin, a olhar para o mar, a sentir a areia, a cheirar a maresia, a fazer pausas para apreciar e respirar fundo, a viajar em paz e harmonia, a inventar, a imaginar, a sonhar e sobretudo a viver cada minuto da Vida...ela adorava VIVER.

Não fui a filha ideal. Sei-o bem. Distanciei-me muito para quebrar o cordão umbilical que me impedia de ser feliz longe dela. Estive tempos infindos sem lhe dizer quanto a amava, embora ela o soubesse. Tenho saudades dos telefonemas infindáveis a falar dos meus projectos e dos dela - tinha sempre algo para fazer...quanto mais não fosse a modificar a sua casa, que mudava de fisionomia todos os dias.

Tenho aqui a sua fotografia, com as rosinhas de s. Teresinha, que me ofereceram há dias. Penso nela. E, sem querer, vem-me uma lágrima aos olhos...só sabemos o que perdemos quando deixamos de o ter...

Uma pintura feita há meses para ela que nunca viu nenhuma minha. Nunca pintei antes de ela falecer.

E uma peça de música o Arabesque de Debussy, que ela própria tocava no piano, depois de almoço, quando nos sentávamos na sala todos juntos, sobretudo ao Domingo.Quando o meu filho toca esta peça agora, vem-me uma miríade de sensações e emoções.



Obrigada, Mãe.
Pois é, ainda estou acordada a estas horas, mas já vou dormir....os passarinhos já cantam e o céu já está claro...pode ser que a insonia já tenha passado.