Costuma-se dizer que o gato tem sete foles ou sete vidas.Sobrevive a tudo, quedas, atropelos, pancadaria, maus tratos, etc.
Não é o meu caso...não sofri nada que se pareça, embora tenha tido a minha quota parte de desilusão e dor em vários momentos cruciais da minha vida. Não os posso , nem devo enunciar aqui, pois isto não é um confessionário. Dessas provações renasci sempre e considero que já vivi umas cinco das vidas que o destino tem reservadas para mim.
Dantes as pessoas viviam só uma vida no mesmo local ou, se variavam, voltavam mais tarde às raízes, casavam uma vez e para toda a vida, mesmo que houvesse traições durante o percurso, a mobilidade era menor, a família mais unida na aparência. Isto é o que nós imaginamos, pois sei que muitas famílias não eram standard ou exactamente assim e que havia muitas quezílias, sobretudo quando se tratava de partilhas ou da morte dos membros mais velhos.
Vivi o que considero a minha 1ª vida dos 5 aos 20, a minha infância e adolescência e é delas que hoje falo. Não considero que tenha sido uma infãncia dourada, mas andou por perto e, se não olho para aqueles anos como os mais felizes da minha vida, é porque o meu feitio e personalidade me não deixaram estagnar na doçura da estabilidade e afectos, cedo demais achei que tinha de me rebelar, mesmo que só aparentemente, para não ficar formatada para todo o sempre, como tantas outras meninas bem da minha idade para as quais olhava com terror, desdenhando a sua vacuidade e pouco interesse.Quis sempre mais.
Os meus pais viviam bem, nunca tivémos problemas económicos; na minha casa tínhamos conforto, espaço ( algo inimaginável nos dias de hoje), uma relativa liberdade e muitas obrigações ou valores como queiramos chamar-lhes. Vivíamos com sobriedade numas coisas, como roupas, comida, materiais escolares ou lúdicos ( nunca tive uma bicicleta, por exemplo), mas com excesso noutros campos, que agora não interessa aqui enumerar. A pouco e pouco, no entanto, as mordomias foram escasseando por força das mudanças sociais e fui-me dando conta de que a vida não era o mar de rosas da minha infância, os meus Pais tinham sofrido bastante para chegar até ali e a cada um de nós cabia realizar algo mais.
Fui uma católica fervorosa nos tempos do liceu e empenhei-me em tudo o que me metia, até fiz jornal de escola quando não havia senão stencis e os desenhos tinham de ser marcados na cera para depois se policopiarem. Foi uma época importante na minha vida, em que viver pressupunha militar em qualquer ideal, lutar por alguma coisa, criticar e ser mais interveniente. Nunca fui de esquerdas, embora na universidade visse bem os podres do salazarismo. Havia profs banidos, havia os instalados. Havia alunos revoltados e algumas manifs. Não entrava nisso, preferia estudar afincadamente, passava horas na biblioteca a ler Shakespeare ou a estudar Linguística, dava explicações de Alemão e ainda trabalhei nos escritórios das motos Honda e num Lar de 3ª idade para estrangeiros. Fiz tese de licenciatura, que mais nenhuma colega quis fazer pois contava que ia ser abolida em breve e, em 1971, comecei a dar aulas e a estagiar no Liceu Pedro Nunes.
Esta foi a primeira das minhas vidas, sempre em Lisboa, com idas esporádicas a Inglaterra, França e Alemanha e Áustria à minha custa para aperfeiçoar as Línguas e tomar conta de crianças. Numa viagem à Suécia com estudantes do Técnico e de Coimbra conheci o meu futuro marido e a minha 2ª vida começou.
Hoje sonhei com a minha casa de infância, com os meus Pais e irmãos. Parecia um filme...a casa era linda, o jardim imenso. Foi lá que aprendi a amar a Natureza, as árvores, as estações do ano, o cheiro da relva cortada, as flores. Por isso tudo agradeço hoje e com nostalgia aos meus Pais.
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sábado, 14 de janeiro de 2012
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
DIA MUNDIAL DA MUSICA
O que seria de nós sem a MÚSICA?
Não concebo a minha existência sem ela. Desde que nasci e que me conheço que oiço música, vivo a música, promovo a música, uso a música para me lembrar da essencia do nosso Existir, da Beleza, da Harmonia, do Ritmo, do Espectáculo, da Vivência que a Música só por si contém.
Em casa dos meus Avós adormecia ao som da música clássica que o meu Avô ouvia no seu escritório - Emissora 2 - uma das recordações mais remotas que conservo, a par dos carros eléctricos que desciam a R. Alexandre Herculano vertiginosamente. Em minha casa havia sempre um disco a tocar ou no andar de cima - a nossa música pop rock - ou no andar de baixo, clássica e romantica, ou alguém a tocar piano, a minha Mãe , os meus primos, dotados para o improviso, os meus irmãos em aulas de piano.
Depois de casar continuei a ouvir música clássica e ainda dos programas A 23ª Hora, por exemplo e Enquanto for Bom Dia e depois, Oceano Pacífico, com música xarope, como lhe chamava a minha sobrinha Catarina!Os meus filhos foram nados e criados no meio musical. Para adormecerem, punha uma cassete do James Last ou do Richard Clayderman com excertos de musica clássica, alguns destes ainda eles chamam música para adormecer...:). Fui a muitos concertos da antiga Regie Symphonie, depois Orquestra do Porto, dei aulas de Inglês na Escola Profissional de Música, uma das experiências mais interessantes do meu currículo.
DIA MUNDIAL DA MUSICA devem ser todos os dias da nossa vida. O que aconteceria se houvesse sempre música clássica nas prisões, nas escolas, nas igrejas?...
Ficam aqui dois dos excertos mais belos e avassaladores que conheço.
Sâo da banda sonora do filme O Piano, talvez um dos filmes que mais me impressionou na vida e outro de Amadeus, homenagem a um dos maiores génios que jamais existiu.
domingo, 2 de maio de 2010
DIA DA MÃE
Nenufares- jardim Botanico- 2010
Pudesse eu, soubesse eu, escrever poemas à minha Mãe, como faz a minha amiga Regina ou o meu irmão Mário, se eu conseguisse traduzir em palavras tudo aquilo que sinto ao pensar nela, ficaria aqui até ao romper da aurora, que não tarda, e mesmo assim não bastaria.
Faz-me tanta falta a minha Mãe.
Fez-me falta logo no dia em que saí de casa para me casar em 1973, e depois quando deixei Lisboa em 1975, mais tarde em Chaves durante dois longos anos sem telefone em casa a 500km de distância, mais os vinte e cinco no Porto,cidade de que ela parecia não gostar e que só visitou duas ou tres vezes. Fez-me muita falta no casamento do meu filho e essa ausencia custou-me muito a perdoar.
Faz-me falta a minha Mãe desde que deixei de lhe telefonar a pedir conselhos, a dar-lhe novidades, a transmitir-lhe boas novas dos filhos, de mim e da nossa vida. Ficava feliz com cada vitória minha, com cada êxito dos meus filhos, elogiava-me e aumentava a minha auto-estima só de a ouvir.
Faz-me falta a minha Mãe desde esse dia - que é hoje o 7º aniversário, 2 de Maio de 2003, quando, pelo telefone, me anunciaram a sua morte aos 84 anos. De repente, o coração falhou. Ainda no Natal em sua casa, fizera um pequeno discurso para toda a família reunida, um discurso demasiado solene e que nos causou calafrios na espinha. Parecia que adivinhava...
Tudo o que sou aprendi ,em parte, com a minha Mãe. Ela adorava ensinar: a coser, a tricotar, a bordar, a passar a ferro com esmero, a cozinhar, a ler romances ou poesia, a interpretar e a apreciar filmes romanticos ou dramáticos, a tocar piano, a ouvir Chopin, a olhar para o mar, a sentir a areia, a cheirar a maresia, a fazer pausas para apreciar e respirar fundo, a viajar em paz e harmonia, a inventar, a imaginar, a sonhar e sobretudo a viver cada minuto da Vida...ela adorava VIVER.
Não fui a filha ideal. Sei-o bem. Distanciei-me muito para quebrar o cordão umbilical que me impedia de ser feliz longe dela. Estive tempos infindos sem lhe dizer quanto a amava, embora ela o soubesse. Tenho saudades dos telefonemas infindáveis a falar dos meus projectos e dos dela - tinha sempre algo para fazer...quanto mais não fosse a modificar a sua casa, que mudava de fisionomia todos os dias.
Tenho aqui a sua fotografia, com as rosinhas de s. Teresinha, que me ofereceram há dias. Penso nela. E, sem querer, vem-me uma lágrima aos olhos...só sabemos o que perdemos quando deixamos de o ter...

Uma pintura feita há meses para ela que nunca viu nenhuma minha. Nunca pintei antes de ela falecer.
E uma peça de música o Arabesque de Debussy, que ela própria tocava no piano, depois de almoço, quando nos sentávamos na sala todos juntos, sobretudo ao Domingo.Quando o meu filho toca esta peça agora, vem-me uma miríade de sensações e emoções.
Obrigada, Mãe.
Pois é, ainda estou acordada a estas horas, mas já vou dormir....os passarinhos já cantam e o céu já está claro...pode ser que a insonia já tenha passado.
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Batem leve, levemente...
Este poema lembra-me os anos de escola primária em que ninguém deixava de ler Augusto Gil, decorar tudo e, simultaneamente, de se condoer com a sorte das crianças que sofrem as agruras do frio.
Hoje resolvi pintar o inverno, a paisagem fria e agreste, com tanto de belo como de misterioso. Foi a guache e pastel.
Vai o poema também a lembrar esses velhos tempos.

Batem leve, levemente
Como quem chama por mim.
Será chuva, será gente?
Gente não é certamente
E a chuva não bate assim.
É talvez a ventania
Mas ainda há poucochinho
Nem uma agulha bulia
Na quieta melancolia dos pinheiros do caminho.
Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.
Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...
E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...
Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
. e cai no meu coração.
Augusto Gil
Hoje resolvi pintar o inverno, a paisagem fria e agreste, com tanto de belo como de misterioso. Foi a guache e pastel.
Vai o poema também a lembrar esses velhos tempos.

Batem leve, levemente
Como quem chama por mim.
Será chuva, será gente?
Gente não é certamente
E a chuva não bate assim.
É talvez a ventania
Mas ainda há poucochinho
Nem uma agulha bulia
Na quieta melancolia dos pinheiros do caminho.
Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.
Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...
E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...
Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
. e cai no meu coração.
Augusto Gil
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