sábado, 2 de outubro de 2010
UM POUCO MAIS DE AZUL
Já não me lembro de passar um sábado em casa completamente sozinha, sem o filho a desafiar-me para ir tomar um brunch ( breakfast+lunch) ao café, ou a filha a sugerir irmos à Foz almoçar. Era bom, mas não acontecerá neste fim de semana. Não há semanas inglesas em Lx, excepto para quando os feriados são só lisboetas :). Na 2ª o meu filho terá uma aula só, mas não pode faltar.
Levantei-me cedo e pus-me a pintar, a trabalhar um quadro que já tinha feito anteontem, mas que não me estava a agradar. Só usei azuis e branco. A minha ideia era usar tantos tons de azul quanto possível (!), de modo a ter um abstracto cósmico. Apelidei-o de " Ozone Hole", pois deve ser mais ou menos assim que ele aparece nos telescópios que não possuo.Fotografei-o já na parede da minha sala, pois é aí que ficará nos tempos mais próximos.
Imaginar é sempre bom...
E já agora um dos poemas que mais gosto mas que, felizmente, não se coaduna com o meu estado de espírito neste momento.
Quase
Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo ... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se enlaçou mas não voou...
Momentos de alma que, desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...
Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...
Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Mário de Sá Carneiro