Como recompensa de um dia bastante atribulado, cheio de peripécias e sobressaltos daqueles que não se comparam nem numa milionésima de hipóteses com o que os Japoneses estão a sofrer neste momento, depois dum tsunami e abalo de terra colossais, resolvi sentar-me e tentar o MEZZO.
JACKPOT! Um concerto tocado pela melhor pianista do mundo, na minha modesta opinião: Martha Argerich
: Concerto de Schumann em lá menor, opus 64, para piano, o único dele para esse instrumento, maravilhoso e romântico, deixa-nos a sonhar e a desejar mais e mais.
Ouvi este concerto tocado pelo nosso Pedro Burmester ainda na Igreja de são Bento da Vitória, quando não havia Casa da Música, e eu conhecia alguns dos executantes da orquestra do Porto - nessa altura Regie Symphonie, que eram meus colegas na Escola Profissional de Música onde ensinei Inglês durante dois anos. Uma delas, Wendy Quinlan, que foi professora de flauta do meu filho, deixava-nos sempre bilhetes grátis na bilheteira e marcava os primeiros bancos para mim e filhos. Uma mordomia, que nunca me soube demais, pois a igreja nunca enchia. Era mesmo amiga deles e depois dos concertos , por vezes, íamos ao antigo Café dos Clérigos comer bolo de chocolate e conversar. Já só resta uma na Orquestra do Porto. Todos os outros, a Wendy, flautista australiana, o Gilles, francês que tocava fagote, o John e a Jean, violistas ingleses, se foram embora. Só ficou a violinista Nancy americana. Eram um grupo fixe que me deixou saudades.
O meu filho ainda agora fica em casa da Wendy e do marido quando tem de ir a Bruxelas - quase todos os meses - e toca flauta com ela. É um prazer para ele estar com uma pessoa tão talentosa.
Martha Argerich delicia-me com os seus trilos, o seu cabelo cinzento e desalinhado, o vigor e a emoção que saem das suas teclas. A orquestra acompanha-a na perfeição....um concerto indescritível e que me deixa sem fala. É argentina, avessa aos media, já gravou para inumeras editoras. Tem 70 anos e venceu um cancro do pulmão detectado em 1990, que a obrigou a ablação de parte do órgão em questão. E está aqui a deliciar-me com o seu talento, a sua energia e expressividade.
Acabou. A audiência de pé aplaude-a com entusiasmo, diria, com fervor. Martha, por favor, toca um encore, suspiro eu....e todos os outros comigo. E ela toca mesmo. Obrigada.
Podem ouvir um excerto do mesmo concerto aqui e agora:)
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