segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Os hábitos mudam

Dantes andávamos todos de transportes públicos. O automóvel, quando existia,  era para levar as crianças à escola ou para os pais que trabalhavam muito se deslocarem para o local de trabalho.
Os estudantes andavam todos de autocarro em Lisboa.
A minha vida de estudante foi, aparentemente, um desperdício - ou talvez não - pois chegava a passar duas horas nos transportes públicos, muitas vezes à chuva, sem poder ler, pois enjoava, contemplando as ruas mais feias de Lisboa, por onde passava o autocarro 12. Depois ainda tinha de apanhar o 38, de dois andares,  que já seguia por ruas mais chiques. Chegava a casa extenuada à tardinha e só me apetecia dormir.
Quando comecei a dar aulas no Liceu Pedro Nunes, beneficiei de algumas boleias com um amigo do meu irmão, que também andava lá a estudar. Foi uma benesse, pois o liceu era muito fora de mão e tinha de sair as 7.45.
Quando casei, passei a ter de apanhar três transportes para chegar ao Liceu MªAmália - autocarro, metro e autocarro....chegava ao liceu as 8.15 e tinha cinco aulas em perspectiva...mas primeiro tomava um café no Pisca-Pisca, que já não existe, e comia uma madalena, que me sabia pela vida.
Tirei carta, mas nunca cheguei a guiar, tive dois acidentes, era distraída até dizer basta, não tinha jeito nenhum para conduzir e tornava-se perigoso fazê.lo. Foi uma grande lacuna na minha vida, em que experimentei quase tudo.
Parece que agora as pessoas se deram conta de que ter um automóvel sai caríssimo e descobriram que há metro, autocarro e até eléctricos no Porto. Estão em pânico, como se passar do carro para o omnibus fosse uma degradação humilhante. Deviam ir a Londres ou a Munique, onde se vêem executivos vestidos a preceito no metro ou nos Strassenbahnen, eléctricos que percorrem a cidade toda. Ninguém sente vergonha, nem medo. Todos são inteligentes e amigos do ambiente.