sábado, 3 de março de 2012

Mar português


Já pintei muitos quadros e quadrinhos sobre o mar. Consigo fazer sempre tons diferentes, usando texturas apelativas ou ausência delas, mais areia, menos espuma, mais azul ou verde, céus cinzentos, nuvens baixas, tons pastel, mais dramatismo, mais suavidade.

Nunca pintei em aguarela de modo que hoje resolvi dedicar-me a esse material. Usei muita água, mas por fim não ficou tão transparente quanto desejava. Mesmo assim gosto dele. É diferente de todos os outros que já fiz.

Hoje descobri um site com obras completas de Pessoa tal qual foram publicadas em 1ª edição. Tem números da revista Orfeu, poemas em inglês, A Mensagem ... tudo editado em papel (?) pardacento, como se tivesse muitos anos. Aliciante. Li A Mensagem toda, que já há muito não relia. É magnífico.

O site chama-se E-BOOK PORTUGAL e pode-se fazer o download de 10 obras.

Vai aqui um poema muito belo como tantos outros que falam do mar e de descobertas.

AS ILHAS AFORTUNADAS

Que voz vem no som das ondas
Que não é a voz do mar?
E a voz de alguém que nos fala,
Mas que, se escutarmos, cala,
Por ter havido escutar.

E só se, meio dormindo,
Sem saber de ouvir ouvimos
Que ela nos diz a esperança
A que, como uma criança
Dormente, a dormir sorrimos.

São ilhas afortunadas
São terras sem ter lugar,
Onde o Rei mora esperando.
Mas, se vamos despertando
Cala a voz. e há só o mar.


Fernando Pessoa ( O Encoberto)