segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Requiem para uma árvore
“…Era uma vez um jardim maravilhoso, cheio de grandes tílias, bétulas, carvalhos, magnólias e plátanos. Havia nele roseirais, jardins de buxo e pomares…”, Sophia de Mello Breyner in “O Rapaz de Bronze”
É assim que começa o conto de Sophia.
Hoje uma parte deste jardim - será uma ínfima parte, mas era tão bela - foi decepada duma vez só. Cortaram a grande tília que se erguia mesmo junto à entrada e ao portão. Era linda, ainda nem sequer tinham caído as folhas doiradas, a sua abóbada via-se quase desde a Av. da Boavista, quando se vai pela Rua António Cardoso em direcção ao Campo Alegre. Enamorada que sou por árvores, disse muitas vezes aos meus filhos: Olhem para esta maravilha, parece desenhada no céu por um pintor, tal é a simetria da sua abóbada. Gostava daquela tília como se fosse da minha família. No chão ficou um cepo de um metro ou mais, sobre o qual brincava um miudita toda feliz. Nem sequer quis ver melhor, a entrada parece vazia e triste.
Fui à procura de referências a este belo exemplar arbóreo online e emcontrei este extracto interessante:
Não é, por isso, de estranhar que, logo nos bosquetes de entrada seja possível ler extractos de obras de Sophia e Ruben que descrevem a quinta, um dos quais refere as tílias existentes na frente da casa. Da mesma forma, é possível admirar a árvore de papel, cuja casca - que se desprende como folhas de papel - era utilizada pelas crianças para construir o que diziam ser as casas dos anões, no local onde hoje existe o Jardim dos Anões.
“Este jardim tinha um grande carvalho e um conjunto de faias, que estão descritos nas histórias de Sophia. Sabemos que era o local onde as crianças brincavam e faziam as casas dos anões, sendo o cenário do conto ‘A Floresta’, escrito por Sophia”, salientou Teresa Andresen. A poucos metros de distância encontra-se o Jardim do Rapaz de Bronze, outra referência importante na obra de Sophia de Mello Breyner Andresen, dominado por um pequeno lago com uma estátua de onde jorra água.
“O ‘Rapaz de Bronze’, outra história de Sofia, também cá está, só que nunca foi um rapaz, sempre foi uma senhora, que ela ficcionou como sendo um rapaz”, frisou a directora do Jardim Botânico. “Num lugar sombrio, solitário e verde, havia um pequeno jardim rodeado de árvores altíssimas. No meio desse jardim havia um lago redondo sempre cheio de folhas. No centro do lago havia uma ilha muito pequena onde cresciam fetos e no centro estava uma estátua que era um rapaz de bronze”, pode-se ler numa placa junto ao lago, que cita um trecho da obra ‘O Rapaz de Bronze’. Os denominados jardins literários, pela sua ligação com as vivências de Sophia e Ruben, estão situados em volta da casa principal, sendo possível ao visitante sentar-se no banco de azulejos descrito pela escritora,observar a glicínia de que fala na sua obra e mesmo o bucho que entra num dos seus contos. “A opção de manter as vivências de Sophia foi uma coincidência.
( in Porto XXI)
(Fotos minhas tiradas em várias estações do ano)