sábado, 21 de novembro de 2009
Sophia e Ruben - meus vizinhos e companheiros literários
da minha varanda - clicar)
Vivo no Campo Alegre, como já várias vezes mencionei aqui neste blogue. É um local um pouco privilegiado/ snob nalguns aspectos - gente fina é outra coisa, lá dizia a série da RTP - mas com centenas de árvores por km2, apesar de grande parte do Jardim, que outrora pertencia à quinta dos Andresen - avós nórdicos de Sophia e RubenA - ter sido deitado abaixo para a construção da maldita VCI, hoje causadora de dores de cabeça e de acidentes a milhares de utentes que a percorrem todos os dias de casa para o emprego e do emprego para casa. Quando lá se passa, ainda se vêem os muros agora ornamentados com arame farpado que ladeiam o Jardim Botânico, cortado ao meio. Criminoso. Mas o asfalto manda, o automóvel é rei e os condutores são os senhores da guerra. É por isso que não conduzo. Tenho carta e nunca conduzi. Bastou-me ter um acidente em Lisboa para desistir logo.
Onde ia eu? Na maravilha que é este local onde vivo para quem gosta de árvores, de espaço, de ar e de pássaros. Um dia encontrei um colega da minha escola aposentado que andava "aos pássaros" , ou seja a passear e a reconhecer os cantos das aves canoras diversas ao fim da tarde.
Hoje nem sequer saí, mas já tive dois momentos de extase absoluto: um diante da minha lareira acesa pela primeira vez, ouvindo o " Panis Angelicum" no meu IPOD; o segundo, na varanda, contemplando as árvores centenárias da minha rua - ácers, palmeiras, cedros, tílias, yuccas, quencias, camélias já a florir e não sei quantas mais que se avistam daqui.
Vivi toda a minha infância e adolescência rodeada de árvores - choupos, tílias, eucaliptos, pinheiros, ameixieiras, pessegueiros, laranjeiras, etc. - numa zona privilegiada de Lisboa e esta visão das árvores em cada estação do ano comove-me e mexe comigo.
Lembro-me do restolhar das folhas dos choupos ao fim das tardes de Verão e da grande tília de copa em abóbada que nos tirava a vista do rio das janelas. Também me lembro da glicínea que caía do cima do muro até ao chão, torrente lilaz na Primavera e dourada no Outono ou das buganvílias vermelhas vivas - orgulho do meu Pai - que trepavam pela varanda acima e tinham picos. Isto para não falar das lantanas - arbustos densos - que nos roubavam as bolas feitas de meias com que jogávamos ao "mata"e cheiravam intensamente. Fico nostálgica, quando recordo aquilo a que chamo a minha 1ª incarnação.
Como não dar graças a quem me proporciona/ou tudo isto?
Hoje recordei os pedacinhos que li de " O Mundo à minha Procura I" de Rubem A e os contos de Sophia, onde eles se referem a esta maravilhosa quinta, onde se podia correr livremente e que não tinha fim.
Ficam aqui essas recordações. E as minhas fotografias todas tiradas hoje da minha varanda para o Campo Alegre.
( a casa dos Andresen- clicar)
Oiço a Orchestral Suite No2 de Bach que vos deixo tb aqui para melhor aproveitarem estes momentos.
Bom Domingo. Vão à Foz ver o mar que deve estar bravo....se viverem no Porto, claro!