terça-feira, 23 de março de 2010

ALICE IN WONDERLAND



Não foi para imitar o meu irmão que resolvi escrever esta entrada no blogue, mas apenas porque me deu na telha de ir ver o filme hoje às 14h e pela primeira vez na minha vida, estive sozinha numa sala de cinema, de óculos 3D, com a música, as cores em movimento, as personagens extravagantes, as legendas salientes, os coelhos apressados, rainhas tresloucadas, gatos de olhos faiscantes, lagartas azuis e chapéus malucos ...tudo só para MIM.
EU fui naquelas duas horas uma verdadeira Alice, sozinha no mundo de extravagância e loucura e capaz de acreditar no impossível.

Sempre gostei da menina Alice, candida e forte simultaneamente, dos seus amigos perspicazes, doces e enigmáticos. Li o livro no Colégio Inglês - simplificado, com certeza - e fiquei durante anos com a impressão de que Lewis Carroll era uma mulher. Compreende-se. Nesta história só as mulheres vencem ou são derrotadas, os homens só existem para as servir. Carroll era um feminista avant la lettre!

O filme não me maravilhou, ainda que tenha alguns ingredientes extraordinários, como Johnny Depp, num dos seus melhores papeis, fazendo de Mad Hatter, o chapeleiro maluco, a frágil Mia interpretando a adolescente Alice, que foge do mundo real e dum casamento forjado, Helen Bonham Carter, no papel da Rainha de copas - ia jurar que a cabeça dela era mesmo um coração repleto de cabeleira ruiva! - e last but not least, o gato de olhos verdes sedutores, que se esboroa em thin air falando com a sua voz grave.
Dispensavam-se as aves gigantescas, os cães dinossáuricos e o ambiente surreal que invade as cenas finais do filme.

Reli agora rapidamente o livro online. Não há nada de efeitos especiais na história. Nem no filme de Walt Disney, que é encantador. O julgamento no final do livro é um manual de fantasia e ironia, de nonsense e candura, que desapareceu neste filme, não existe pura e simplesmente. Bem sei que isto não é um remake, mas uma adaptação de dois romances, mas o melhor foi cortado pelo realizador e substituido por uma luta violenta com efeitos visuais que nos entram pelos olhos adentro.

Finalmente, não consigo habituar-me às 3 dimensões. Acho os filmes escuros, leio com dificuldade as legendas, perde-se muito em beleza....dispensava tudo isso e já vi uns quatro filmes nesse formato. Só gostei verdadeiramente dum: A Idade do Gelo, que é fabuloso.

Quando saí do cinema, senti-me fora do buraco, a tarde estava radiosa e os passarinhos cantavam. As árvores cheias de flores, a erva de campainhas e malmequeres minúsculos. Há tardes felizes.

Aqui ficam o princípio e o fim do livro de Lewis Carroll. Desculpem ser a versão original. O meu neto de 4 anos compreenderia Alice muito bem e apoiaria tudo o que ela faz.

Uma maravilha. Wonderful.
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I
ALICE was beginning to get very tired of sitting by her sister on the bank and of having nothing to do: once or twice she had peeped into the book her sister was reading, but it had no pictures or conversations in it, "and what is the use of a book," thought Alice, "without pictures or conversations?'

So she was considering, in her own mind (as well as she could, for the hot day made her feel very sleepy and stupid), whether the pleasure of making a daisy-chain would be worth the trouble of getting up and picking the daisies, when suddenly a White Rabbit with pink eyes ran close by her.
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II

Lastly, she pictured to herself how this same little sister of hers would, in the after-time, be herself a grown woman; and how she would keep, through all her riper years, the simple and loving heart of her childhood: and how she would gather about her other little children, and make their eyes bright and eager with many a strange tale, perhaps even with the dream of Wonderland of long ago: and how she would feel with all their simple sorrows, and find a pleasure in all their simple joys, remembering her own child-life, and the happy summer days.

Lewis Carroll - Alice in Wonderland