Li há muito este único romance de Oscar Wilde, um dos meus escritores de culto. Acima de tudo admiro a sua coragem, inteligência e "wit" ( não consigo traduzir), o domínio das palavras, a expressão de verdades duma maneira simples e singular, a delicadeza e simultaneamente, o desprezo total pelo Homem, enquanto ser imoral,desplicente e tortuoso.
Fui hoje ver a última versão em filme de Dorian Gray, o seu romance imortal.
O tema da beleza e da juventude eterna, a tentação do desafio entre o Homem mortal e o Demónio ou Deus. A troca da alma pela eterna juventude, tema já conhecido de Fausto, a perdição do Homem que se julga capaz de vencer a inevitabilidade do envelhecimento. Tudo isto numa história gótica, com sabor vitoriano e em filme.
As interpretações são irrepreensíveis: Ben Barnes no papel de Dorian, Colin Firth no de Sir Henry Morton, Ben Chaplin no de Basil Hallmark, Rachel Hurd-wood no da jovem Sybil, uma verdadeira Ofélia que se mata por amor. A história, infelizmente, foi modificada e não se assiste a uma mudança gradual do jovem Dorian, é tudo um pouco brusco, os anos passam sem se dar por isso; perde-se a profundidade psicológica que, no romance, é traduzida na relação do quadro com o objecto da pintura: Dorian. Para modernizar, estragaram o fim, tornado demasiado melodramático e pura invenção. Tenho o livro aqui ao meu lado e o fim é tão mais belo e digno!Não há gritos, nem fogos, nem outras pessoas...só Dorian e o seu fabuloso e misterioso quadro.
Vale a pena ver, quanto mais não seja para ouvir o puro inglês, o retrato fiel da Londres vitoriana tão decadente e putrida, as interpretações, em geral e a pureza inicial do jovem Dorian e da actriz apaixonada por ele. Let's look at the trailer....:)))
Estavam tres pessoas no cinema. Sem pipocas, nem restolhar de sacos de plastico. Como eu gosto.