quinta-feira, 10 de junho de 2010

DIA de CAMÕES


Estátua do Homem do Leme - Foz do Douro
Quando andava no liceu, tive de estudar os Lusíadas, como todos os alunos que naquela altura frequentavam o ensino oficial. Os Lusíadas tinham o seu quê de tenebroso para uma menina habituada a ler romances - mais do que qualquer outro tipo de leitura - e mesmo esses , escolhidos pela minha Mãe ou irmãs. Era o tempo das Berthe Bernages, das Pearl Bucks , tudo muito soft e construtivo, para não dizer politicamente correcto. Lia muito, muito, mas tudo demasiado optimista e cor de rosa.
Os Lusíadas, ensinados pela minha professora, uma senhora de Trás-os-Montes com cultura para dar e vender, muito formal, mas excelente professora, encantaram-me. Adorava os pequenos episódios entre os deuses, os pedacinhos da História de Portugal que iam surgindo e que ela nos explicava dum modo empolgante, as lutas entre Marte e Vénus...era como um jogo de computador em que havia vencedores e vencidos. Depois havia a sintaxe, os exercícios que fazíamos sobre as frases em que o sujeito e predicado andavam a monte e era preciso uma lupa para os encontrar :)). E onde é que estavam os apostos....e os complementos circunstanciais de lugar e de modo??? Tudo empolgante para mim que adorava literatura. Tirei a melhor nota a Português no exame de 5º ano do meu liceu - 17,4. Fiquei maluca! Queria estudar Românicas, mas não existia essa alínea, só a de Germânicas. Fui estudar Inglês e Alemão. Mas continuei entusiasmada pela Literatura Portuguesa, tendo arrancado um 18, a melhor nota do 7º Ano. Não conto isto por vaidade, mas para mostrar como amava a nossa língua. Em Inglês tive 12 na escrita!!!

Mais do que os Lusíadas, fiquei apaixonada pelos sonetos de Camões. Como é que um homem que escreveu no sec XV, consegue ser actual nos tempo de hoje, para lá da maravilha silábica que segue todas as regras, a rima, e o conteúdo de cada poema!

Quando tinha 9 anos o meu avô meteu na cabeça que nós havíamos de aprender poesias de cor. Éramos seis irmãs e cada uma tinha a sua. A mim coube-me a que se segue. Ainda hoje a tenho na memória e é das que mais gosto:


Sete anos de Pastor
Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
Que a ela só por prémio pretendia.

Os dias na esperança de um só dia
Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe deu Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos
Assim lhe era negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida;

Começou a servir outros sete anos,
Dizendo: − Mais servira, senão fora
Para tão longo amor tão curta a vida.



Hoje acredito no Amor. Já não acredito tanto na perseverança em conseguir realizar os nossos sonhos. Mas um poema não tem de ser real nem pragmático. O Amor existe. E o poeta finge que acredita.