domingo, 20 de junho de 2010

Explorar é preciso

Pode-se explorar nas cidades, nas casas, nas ruas, nos jardins, nos becos mais antigos, nos recantos escondidos, nas calçadas, nas escadinhas, nos sótãos ou em salões. Numa cidade, encontra-se sempre alguma coisa de novo, uma inscrição, um grafitti, um nome, um vestígio, traços , pegadas, riscos ou desenhos. Uma cidade é feita pelos homens e tem a beleza, a variedade e a fealdade dos que a habitam.

A Natureza, a verdadeira, tem dificuldade em respirar no meio de uma grande cidade. Ninguém apanha cardos, rosas bravas ou espigas. Compram-se flores a sério, cortadas ou em vaso, semeiam-se bolbos, plantam-se cactos, colocam-se-se árvores dentro de casa para simular aquilo que se não tem: a Natureza.

Saímos da cidade e encontramos uma explosão de maravilhas. A Natureza é pródiga em nos oferecer os seus encantos, prendas, simples ou sofisticadas, mas sempre produzidas por ela, sem recurso a nenhum artifício...os anos, os meses, os dias encarregam-se de moldar estas ofertas, a chuva, os ventos e o sol são os seus artistas prvilegiados. Há esculturas na pedra que parecem feitas pelos homens, mas não são. Há plantas duma variedade infinita que nascem entre as rochas mais fustigadas pelo mar e onde se diria que nem os cardos poderiam alguma vez medrar, há arranjos florais lindíssimos na terra a céu aberto que nenhum de nós conseguiria inventar. É só preciso olhar, observar e admirar.

Nesta colagem vão os resultados da minha exploração de hoje à tarde, aqui a dois passos do jardim.
Foi só descer as escadas...e a exploração começou.
Bem haja a Natureza. É bom viver.

CLIQUEM NA FOTO, p.f.

E para acabar, um poema da minha amiga Regina, que aqui passou alguns anos nas férias. A ela dedico esta colagem.

Exploração


Qual exploradora, parti um dia.
Embrenhei-me na selva da vida
onde sabia andar escondida
a poesia

Encontrei-a
na luz ténue do sol ao fim do dia,
na molécula, no átomo, no quantum de energia,
nas leis de Newton, no conceito de entropia.

Encontrei-a
na reflexão da luz, na impulsão no ar,
no cheiro a maresia e nas algas do mar,
no orvalho, na geada, na chuva, no luar.

Encontrei-a
no ínfimo e no imenso que a vista não alcança,
nas rugas dum idoso, no rir de uma criança,
numa tela, num concerto, numa dança.

Encontrei-a
no voo da gaivota, na pétala da flor,
na chama que tremula e se multiplica em cor
e que irradia energia na forma de calor

Encontrei-a
Nas estrelas, nas galáxias mais distantes,
no olhar apaixonado daqueles dois amantes,
nos extintos dinossauros de dimensões gigantes.

Encontrei-a
Em medusas, corais, nos fundos oceanos,
no vento a agitar nas árvores os ramos,
em pinturas rupestres com vários milhares de anos

Encontrei-a
Na violeta escondida no canto do jardim
e no frasco que continha essência de jasmim.
Tentei então guardá-la só para mim.

Foi assim que ela se evolou
e de novo eu aqui estou
a procurá-la.


Regina Gouveia