terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Em tons castanhos

Hoje fiz este quadro já para o fim da tarde. Já tinha um nesta tela, mas não gostava dela. Puz bastante impasto e textura e usei cores quentes - excepto o verde, que se confunde com o amarelo -. Há uma sugestão de árvore, ainda que pálida. Foi feito em MDF - madeira - fino. É o material em que mais gosto de pintar, parece que as cores ficam mais brilhantes e a água não é absorvida pelo fundo.

Vai aqui um poema de Pablo Neruda que me parece identificar-se com este abstracto sem legendas.

“Eu pertenço à fecundidade
e crescerei enquanto crescem as vidas:
sou jovem com a juventude da água,
sou lento com a lentidão do tempo,
sou puro com a pureza do ar,
escuro com o vinho da noite
e só estarei imóvel quando seja
tão mineral que não veja nem escute,
nem participe do que nasce e cresce.

Quando escolhi a selva
para aprender a ser,
folha por folha,
estendi as minhas lições
e aprendi a ser raiz, barro profundo,
terra calada, noite cristalina,
e pouco a pouco mais, toda a selva.”

(NERUDA, Pablo. O Caçador de raízes. Antologia Poética, José Olympio, 1994, p. 232.)