quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Utopia e realidade


Já há uns dois meses que não vou ao atelier. Pode parecer uma birra da minha parte, há quem estranhe, há quem me escreva a insistir, há quem esteja em silêncio à espera, há, com certeza, alguém que está zangado/a comigo por não corresponder ao que de mim esperariam.Não sou pessoa para obrigações, nem para dar demasiado valor ao sentido do dever - a não ser nas tarefas que a família me impôe ou a profissão me exigia outrora. Desde que me reformei há 3 anos, sinto que as minhas obrigações diárias e costumazes chegaram ao fim e que a partir dali, só tenho como obrigação fazer o que me apetece, continuando a enriquecer-me cultural e fisicamente e a ajudar quem de mim precisa, sobretudo a família.

Tenho dado grande importância ao meu aspecto físico e à saúde neste ultimo mês, prosseguindo com persistência o programa Body For Life. Cada vez que vou ao ginásio e à piscina sinto que estou a melhorar a minha performance física e que progrido face à degenerescência dos meus ossos - artroses - que me deixavam deprimida e tolhida. Já perdi algum peso e sobretudo, consigo fazer os movimentos com mais à vontade. Já aguento a passadeira a 3km por hora, o que é muito bom. Faço bicicleta durante meia hora a uma velocidade razoável e na piscina, consigo estar uma hora nadando ou fazendo a minha hidro-ginástica. Ando mais feliz desde que comecei este regime, acompanhado de dieta de seis refeições, só com carne branca, integrais e nenhuma gordura. Já não como um bolo há três semanas, nem olho para eles. Não vou ao restaurante, como sempre em casa ou sopa no café. Descobri que os cafés fazem belíssimas sopas caseiras a 1 euro. As barritas da myoplex que substituem refeições tb são óptimas. Tenho tido muta ajuda da minha nora e do meu filho que já fazem este programa há meses e estão lindos. Isso anima-me muito tambem. Fui à médica e estou a fazer um check-up completo a nível de exmes básicos.

O tempo tem estado magnífico e só isso já é um autêntico hino à actividade física. Apetece andar a pé, passear, estar ao ar livre.

O atelier ultimamente só me trazia frustração. Em tempos, sentia que aprendia muito, talvez porque fui para lá com a ideia de que seria como na Paleta, onde as pessoas eram quatro ou cinco e o professor empenhava-se muitíssimo na nossa progressão, falando de nós e connosco individualmente e apreciando tudo o que fazíamos com grande classe. Na Utopia, pelo facto de haver muita gente, o espaço ser relativamente pequeno e pouco prático, o ambiente torna-se um pouco confuso, conversa-se muito e trabalha-se pouco. A atenção do Professor é forçosamente dispersa.
Fica longe, tenho de deixar lá os quadros uma semana à espera de poder continuar , o que para mim se torna quase impossível. Quando começo uma obra , gosto de continuar logo. Não fiz um quadro de jeito na Escola desde Outubro. Experimentei óleo, mas achei difícil e complicado, o que não quer dizer que não venha a tentar outra vez. Em casa sinto-me mais à vontade e pinto melhor, na minha humilde opinião.
Queria acrescentar que admiro imenso todos os que trabalham a Utopia, como já deu para ver. São verdadeiros artistas, tanto a professor Domingos Loureiro - com juventude, talento e originalidade acima da média - como a Teresa Silva Vieira, uma artista de alma e coração, dedicada e preocupada com o bem-estar de todos. Agradeço-lhes o tempo e a amizade que me dedicaram enquanto lá estive. Também sinto a falta de convívio com pessoas amigas, mas essas estão aqui e continuo com elas, não se justifica ir ao atelier só para as ver.

Oiço a Sinfonia nº2 de Mahler no Mezzo: Ressurreição. Ouvi-a na inauguração da Casa da Música, sozinha, com a sala a abarrotar. Lembro-me que saí de lá a chorar de comoção e telefonei ao meu filho que estava em Munique a contar-lhe como tinha sido a experiência.
Todos nós temos de morrer e ressurgir de vez em quando. Mudar de rumo, escolher outras opções, para continuar a VIVER. A utopia tem de se transformar em realidade no nosso dia a dia, pelo menos nos anos que nos restam de vida...uma vez que já ascendemos à categoria de seniores e os anos passam num instante.

Um video com um excerto empolgante da Sinfonia nº 2 de Mahler: