Já há uns dois meses que não vou ao atelier. Pode parecer uma birra da minha parte, há quem estranhe, há quem me escreva a insistir, há quem esteja em silêncio à espera, há, com certeza, alguém que está zangado/a comigo por não corresponder ao que de mim esperariam.Não sou pessoa para obrigações, nem para dar demasiado valor ao sentido do dever - a não ser nas tarefas que a família me impôe ou a profissão me exigia outrora. Desde que me reformei há 3 anos, sinto que as minhas obrigações diárias e costumazes chegaram ao fim e que a partir dali, só tenho como obrigação fazer o que me apetece, continuando a enriquecer-me cultural e fisicamente e a ajudar quem de mim precisa, sobretudo a família.
Tenho dado grande importância ao meu aspecto físico e à saúde neste ultimo mês, prosseguindo com persistência o programa Body For Life.

O tempo tem estado magnífico e só isso já é um autêntico hino à actividade física. Apetece andar a pé, passear, estar ao ar livre.
O atelier ultimamente só me trazia frustração. Em tempos, sentia que aprendia muito, talvez porque fui para lá com a ideia de que seria como na Paleta, onde as pessoas eram quatro ou cinco e o professor empenhava-se muitíssimo na nossa progressão, falando de nós e connosco individualmente e apreciando tudo o que fazíamos com grande classe. Na Utopia, pelo facto de haver muita gente, o espaço ser relativamente pequeno e pouco prático, o ambiente torna-se um pouco confuso, conversa-se muito e trabalha-se pouco. A atenção do Professor é forçosamente dispersa.
Fica longe, tenho de deixar lá os quadros uma semana à espera de poder continuar , o que para mim se torna quase impossível. Quando começo uma obra , gosto de continuar logo. Não fiz um quadro de jeito na Escola desde Outubro. Experimentei óleo, mas achei difícil e complicado, o que não quer dizer que não venha a tentar outra vez. Em casa sinto-me mais à vontade e pinto melhor, na minha humilde opinião.

Queria acrescentar que admiro imenso todos os que trabalham a Utopia, como já deu para ver. São verdadeiros artistas, tanto a professor Domingos Loureiro - com juventude, talento e originalidade acima da média - como a Teresa Silva Vieira,
Oiço a Sinfonia nº2 de Mahler no Mezzo: Ressurreição. Ouvi-a na inauguração da Casa da Música, sozinha, com a sala a abarrotar. Lembro-me que saí de lá a chorar de comoção e telefonei ao meu filho que estava em Munique a contar-lhe como tinha sido a experiência.
Todos nós temos de morrer e ressurgir de vez em quando. Mudar de rumo, escolher outras opções, para continuar a VIVER. A utopia tem de se transformar em realidade no nosso dia a dia, pelo menos nos anos que nos restam de vida...uma vez que já ascendemos à categoria de seniores e os anos passam num instante.
Um video com um excerto empolgante da Sinfonia nº 2 de Mahler: