segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Floresta ao luar

Nestes dias fiz este quadro. Ao vivo é mais apelativo, aqui perdem-se um pouco as saliências, fica tudo no mesmo plano. O melhor será clicar na foto e ver em grande. Chamei-lhe floresta ao luar, pois dentro do abstracto há contornos de árvores, de um lago, da luz a entrar pelo lado esquerdo.
Foi feito em MDF e mede 35x40 cm.

Fica aqui um poema de Sophia de Mello Breyner a propósito:

Bebido o luar

Bebido o luar, ébrios de horizontes,
Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montes
E todos os jardins verdes do mar.

Mas solitários somos e passamos,
Não são nossos os frutos nem as flores,
O céu e o mar apagam-se exteriores
E tornam-se os fantasmas que sonhamos.

Por que jardins que nós não colheremos,
Límpidos nas auroras a nascer,
Por que o céu e o mar se não seremos
Nunca os deuses capazes de os viver.


E já agora acrescento mais dois poemas enviados pelo meu irmão ( obrigada!) há minutos que parecem feitos para este quadro ou vice-versa...

Formas alvas dançam na escuridão em meus sonhos.
Por entre os galhos que rangem tristonhos
vem a luz da Lua visitar o chão
para ouvir as Árvores em sua noturna canção.

Que a noite, neste momento as reúna,
Que seus espíritos voem juntos no vento
e que seja infinito o tempo
enquanto não vem o dia,
que haja apenas a magia.

No cheiro das flores nesses ares,
Nos feixes de luz nua
Se sente o amor da Lua pelas Árvores,
Se sente o amor das Árvores pela Lua.


Filipe Torresi Rissetto


Entre o luar e o arvoredo,
Entre o desejo e não pensar
Meu ser secreto vai a medo
Entre o arvoredo e o luar.
Tudo é longínquo, tudo é enredo.
Tudo é não ter nem encontrar.

Entre o que a brisa traz e a hora,
Entre o que foi e o que a alma faz,
Meu ser oculto já não chora
Entre a hora e o que a brisa traz.
Tudo não foi, tudo se ignora.
Tudo em silêncio se desfaz.


Fernando Pessoa