sábado, 28 de abril de 2012

6 da manhã

Sim, são seis.

É muito cedo, mas como não conseguia dormir - e tinha-me deitado perto das 3 - resolvi vir ver a madrugada daqui da minha varanda.

Está um pouco frio - os ingleses diriam chilly - mas o silêncio é quase total a um sábado e só isso já é um milagre nesta rua tão animada durante o dia.

O céu é uma imensa abóbada azul amarelada por entre as árvores que continuam a respirar os ares da
Primavera, cada dia mais frondosas, mais verdejantes e imponentes.



Gaivotas piam em busca de algum alimento que o mar lhes não oferece. Até o mar está em crise, nos tempos que correm, as pobres pousam em chaminés ou candeeiros e contemplam o infinito como eu, em busca duma resposta para a inefável questão : Para quê viver?

Lembrei-me agora daquele soneto de Camões tão belo e tão lancinante, que estudámos na escola e cujo encanto não nos era tão acessível como agora.

Aquela triste e leda madrugada,
cheia toda de mágoa e de piedade,
enquanto houver no mundo saudade
quero que seja sempre celebrada.



Ela só, quando amena e marchetada
saía, dando ao mundo claridade,
viu apartar-se de üa outra vontade,
que nunca poderá ver-se apartada.

Ela só viu as lágrimas em fio,
de que uns e outros olhos derivadas
se acrescentaram em grande e largo rio.


Ela viu as palavras magoadas
que puderam tornar o fogo frio,
e dar descanso às almas condenadas.


Bom fim de semana!