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terça-feira, 27 de julho de 2010

VAN GOGH - 1853-1880



Faz hoje 120 anos que VINCENT VAN GOGH pôs termo à vida, após um período conturbado de depressão e problemas financeiros, para além de algumas quezílias sérias com o seu amigo Gauguin, que viveu um ano na sua casa.

Como quase todos os génios, Van Gogh não foi reconhecido pelos seus pares, embora o seu irmão Theo lhe tenha dado sempre apoio e fosse o seu bastião nos dez anos em que o pintor produziu quase toda a sua vasta colecção de obras-primas. Com baixa auto-estima, mas o pressentimento de que o que criava era original e belo, Van Gogh escreveu cartas interessantíssimas onde explicava com pormenor cada uma das suas obras, desenhava a lápis esboços de figuras e paisagens, exprimia a sua esperança em dias melhores e agradecia aos seus apoiantes a coragem por eles incutida.

Este ano, a Royal Academy of Arts, em Londres, organizou uma expo em que procurou revelar O Verdadeiro Van Gogh com 65 pinturas, 30 desenhos e 35 cartas raramente vistas. Uma vasta exposição baseada no trabalho sobre a correspondência do artista feito por um trio do Museu Van Gogh de Amesterdão, Leo Jansen, Hans Luijten e Nienke Bakker.
Durante 15 anos, estes peritos prepararam uma monumental edição anotada, incluindo reproduções das cartas originais, muitas delas com desenhos, que já se pode adquirir nas livrarias e pelos sites online.

Eis parte da carta derradeira, traduzida:

Há também, eu sei, a libertação, a libertação tardia. Uma reputação arruinada com ou sem razão, a penúria, a fatalidade das circunstâncias, o infortúnio, fazem prisioneiros.
Nem sempre sabemos dizer o que é que nos encerra, o que é que nos cerca, o que é que parece nos enterrar, mas no entanto sentimos não sei que barras, que grades, que muros.
Será tudo isto imaginação, fantasia? Não creio; e então nos perguntamos: meu Deus, será por muito tempo, será para sempre, será para a eternidade?
Você sabe o que faz desaparecer a prisão. E toda afeição profunda, séria. Ser amigos, ser irmãos, amar isto abre a porta da prisão por poder soberano, como um encanto muito poderoso. Mas aquele que não tem isto permanece na morte.
Mas onde renasce a simpatia, renasce a vida.
Além disso, às vezes a prisão se chama preconceito, mal-entendido, ignorância, falta disto ou daquilo, desconfiança, falsa vergonha.
Mas para falar de outra coisa, se eu caí, por outro lado você subiu. E se eu perdi simpatias, você por seu lado as ganhou. Eis o que me deixa contente; falo sério e isto sempre me alegrará. Se você fosse pouco sério e pouco profundo, eu poderia temer que isso não durasse muito, mas como acredito que você seja muito sério e muito profundo, sou levado a crer que isto durará.
Só que se lhe fosse possível ver em mim algo mais que um vagabundo da pior espécie eu ficaria muito contente. Então se eu puder alguma vez fazer algo por você, ser-lhe útil em alguma coisa, saiba que estou à sua disposição.
Se aceitei o que você me deu, você também poderia, caso de alguma forma eu puder ajudá-lo, pedir-me: eu ficaria contente e consideraria isso uma prova de confiança. Nós estamos muito distantes um do outro e podemos ter pontos de vista diferentes; contudo, em dado momento, algum dia, poderíamos ajudar-nos um ao outro.
Por hoje eu lhe aperto a mão, agradecendo novamente a bondade que você teve comigo.
Agora, se mais cedo ou mais tarde você quiser me escrever, meu endereço é chez Ch. Decrucq, rue du Pavillon 8, em Cuesmes, perto de Mons.
E saiba que escrevendo-me você me fará bem.

Do seu,

VINCENT “


Fica aqui um poema, baseado na última carta que Van Gogh escreveu a Theo

aquilo que vejo e observo
a cor serve para me exprimir théo: amarelo
terra azul corvo lilás sol branco pomar vermelho
arles
sulfurosas cores cintilando sob o mistério
das estrelas na profunda noite afundadas onde
me alimento de café absinto tabaco visões e
um pedaço de pão théo
que o padeiro teve a bondade de fiar

o mistral sopra mesmo quando não sopra
os pomares estão em flor
o mistral torna-se róseo nas copas das ameixeiras
arles continuou a arder quando tentei matar aquele
que viu a minha paleta tornar-se límpida
mas acabei por desferir um golpe contra mim mesmo
théo
cortei-me uma orelha e o mistral sopra agora
só de um lado do meu corpo os pomares estão em flor
e arles théo continua a arder sob a orelha cortada

por fim théo
em auvers voltei a cara para o sol
apontando o revólver ao peito senti o corpo
como um torrão de lama em fogo regressar ao início
num movimento de incendiado girassol



Al Berto, O Medo

terça-feira, 27 de outubro de 2009

A eterna adiada Maria João Pires



19:30,Sala Suggia 25 EUR
Maria João Pires | Pavel Gomziakov
Por razões de saúde da pianista, o recital de Maria João Pires foi adiado para uma data a anunciar brevemente e que terá lugar até à primavera de 2010.
Os bilhetes adquiridos manter-se-ão válidos para o novo espectáculo, podendo ser reembolsado o seu valor a quem desejar.
Pelo facto, alheio à Casa da Música, pedimos desculpas.





Conheci a Maria João quando ela tinha 15 anos e eu uns 13. Era prima direita duns grandes amigos do meu irmão mais velho, colegas das "Caldinhas" (Colégio Nun'Alvares em S. Tirso). Um dia apareceram todos lá em casa. Eles e a prima, que parecia uma avezinha, com o seu cabelinho curto , pequenina e frágil. Confraternizou connosco, muito simpática, e a páginas tantas, alguém a convidou a tocar piano.
Parece que a estou a ver na nossa sala de outrora. Não hesitou. Sentou-se ao piano e atacou uma série de peças.
Houve uma que nunca mais me saiu da memória: a "Dança do Fogo" de Falla, que nos pôs "de gatas". Tocávamos piano , mas as nossas capacidades limitadas eram incomparáveis com tal génio!! Soubémos, entretanto, que ela queria ser pianista e que era aluna do Campos Coelho, um dos melhores professores do Conservatório de Música de Lisboa.
Muito tempo passou até que Maria João se tornou uma "deusa", não só dentro como fora, a marca da Deutsche Grammophon, acompanhada pelas melhores orquestras do mundo e pelos seus amigos solistas, dando concertos memoráveis... somewhere else.
Só a ouvi uma vez no Porto. Tocou no Rivoli o Concerto nº 4 de Beethoven e não fiquei entusiasmada, talvez porque as condições acústicas não eram as melhores. Mas em contrapartida, tenho muitos CDs dela e oiço vezes sem conta os Improvisos de Schubert e os Nocturnos de Chopin, que me confirmam a sua excelência e sensibilidade.

Ansiava por este concerto na Casa da Música, É um local de culto para mim....e a pianista também. Infelizmente vai ter de esperar....isto se Maria João não resolver naturalizar-se, inventar mais uma desculpa, ostracizar o Porto por não ser nas beiras ou outra razão qualquer. É triste.

Para me consolar e aos que me lêem, vai aqui um pequeno memorial à grande pianista.



BRAVO!