domingo, 18 de outubro de 2009

Laus Deo



(Foto tirada por mim aqui da minha varanda ao fim do dia)

Não acredito em Deus.
Ou seja acredito num ser sobrenatural que existe na Natureza e está acima da nossa existência humana, mas não naquele Deus da religião cristã e católica, que castiga - não se sabe porquê - e dá a uns muito mais do que a outros e permite que uns bons e jovens morram, quando os outros andam por cá anos e anos a dar cabo disto tudo. Desculpem a franqueza. Isto deve-se a ter lido muito Sartre e Camus na FLUL, ter feito a cadeira de História do Cristianismo - dada magistralmente pelo P. Honorato Rosa, que um dia subitamente morreu quando estava a tomar um duche e nos deixou sem aulas e sem a sua sapiência. Ainda hoje pergunto a Deus como foi aquilo acontecer!

Não acredito no Deus de barbas brancas e custa-me ver as crianças aterrorizadas a pensar que fizeram asneiras e vão ser castigadas pelo tal Deus que elas não vêem , mas que as vê a elas. Deve ser terrível. Lembro-me que uma vez me fui confessar e disse ao Padre que tinha ficado com uma borracha que não era minha e ele disse: Isso não é pecado, filha. Fui absolvida e não a devolvi!

Isto tudo para dizer que hoje quase acreditei em Deus, enquanto olhava para o mar na Foz e o sol banhava tudo de uma luz tipica de Outono, suave e quente, limpida e quase mágica. Estive a pintar a pastel durante uma hora - uma alameda de jacarandás - , a ouvir música de Leonard Cohen ( é quase um Deus para mim), a vibrar com o estrondo das ondas contra a rocha masoquista da Praia dos Ingleses e a confraternizar em silêncio com a minha filha, rochas, gaivotas, areia, turistas, navios, petroleiros, jactos e tudo o que a vista alcança.

Fui feliz naquela hora e perguntei-me se morresse naquele instante, se não era bem melhor do que ficar velha um dia e só ter e dar chatices aos outros. Pode parecer mórbido, mas não é, vem-me isto muitas vezes à mente quando estou no auge da felicidade. E só não morro porque os outros iriam ficar tristes, muito tristes sem mim. Faço imensa falta, acho eu.



Um jacto a atravessar o sol :))



A Foz, local divino