Um destes dias acendi a lareira e estive horas esquecidas a olhar para as chamas a dançar sobre os toros ao som do vento que se ouvia através da chaminé. Era um cenário pictórico mais impressionante do que muitas imagens que se vêem do fogo. Adoro acender a lareira , mesmo quando não está frio, acho o cenário lindíssimo. Não consigo ler, só ouvir o meu Ipod e fitar o fogo. A vida corre lá fora e eu muda e queda a contemplar aquele fenómeno, a lenha a ser consumida pelo calor em brasa.
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Devia estar inspirada por essa visão quando pintei este quadro.Saiu bastante chocante nas cores e no movimento dos traços. É grande, mede 1mx80cm. Gosto dele, apesar de não ser o meu habitual.
Vai aqui um poema para amenizar. É talvez o que melhor se coaduna com o meu pensar ao olhar para a lareira acesa no quentinho da minha casa.
Meto-me para Dentro
Meto-me para dentro, e fecho a janela.
Trazem o candeeiro e dão as boas noites,
E a minha voz contente dá as boas noites.
Oxalá a minha vida seja sempre isto:
O dia cheio de sol, ou suave de chuva,
Ou tempestuoso como se acabasse o Mundo,
A tarde suave e os ranchos que passam
Fitados com interesse da janela,
O último olhar amigo dado ao sossego das árvores,
E depois, fechada a janela, o candeeiro aceso,
Sem ler nada, nem pensar em nada, nem dormir,
Sentir a vida correr por mim como um rio por seu leito.
E lá fora um grande silêncio como um deus que dorme.
Fernando Pessoa