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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A lareira e Saint Saens

Ontem resolvi acender a lareira só para mim.
Sentia-me bem em casa, já eram umas dez horas, não me apetecia ver nada na TV - estou cansada dos programas de informação que entrevistam sempre as mesmas pessoas , salvo raras excepções, aliadas ao governo ou ressabiadas por não terem sido convidadas para nenhum poleiro ou ainda duma oposição que se limita a repetir cassetes com mais 40 anos...novelas, confesso que não gosto de nenhuma, parece que retrogredimos 60 anos, tal a discrepância entre o que se vê e aquilo que acontece na real, gente violenta, que só pensa em vinganças, em assassínios camuflados dos seus familiares ( nem os Bórgias eram tão maus:)), maledicência, caricaturas mal amanhadas que não dão nenhuma vontade de rir, situações ridículas que me fazem corar de vergonha por ser portuguesa, nomes sonantes de famosos ( famosos em quê e porquê???), música pimba a granel, não há um programa que preste.
O que me salva às vezes é o MEZZO, sobretudo à tarde, e o Fox Crime que apresenta séries de casos judiciais com algum interesse e bem feitos. O resto é lixo puro e só quem não quer é que não se dedica a coisas mais interessantes.
Ontem acendi a lareira com facilidade pois os tarolos já estavam bem secos, as pinhas também e ainda tinha as acendalhas a ajudar. Rapidamente entrei naquele estado de nirvana, em que a visão das chamas na sua coreografia avermelhada e o ruído do crepitar e estalar são suficientes para esquecermos todos os males do mundo e acreditarmos numa felicidade à mão de semear.
A música também é um bálsamo. Desta vez foram dois concertos de Saint-Saens,
um compositor francês menos popular, talvez do que Beethoven ou Mozart, mas que é dum vigor e brilhantismo impares. Qualquer pianista que toque bem Saint-Saens encontrou a receita para o sucesso porque é música empolgante tocada ao vivo. Gosto dos cinco concertos para piano e ainda dos de violino e o de violoncelo, sem falar do Carnaval do Animais,
uma obra encantadora ou a Dansa Macabra, o Requiem, a Oratória de Natal, etc.etc.
Conceder-se a si próprio este manjar por uma ou duas horas permite-nos viver melhor e até mais longe.
O meu Avô costumava estender-se numa chaise longue junto ao rádio e, fechando os olhos, entregava-se ao prazer da música e do sossego. Viveu até aos 82 anos e mais viveria se não fora a sua loucura por viagens. Adoeceu em Vigo com uma pneumonia de que veio a falecer. Muito aprendi com ele...sobretudo a apreciar a paz.

Eis aqui um pedaço dum dos concertos para piano tocado pelo admirável Sokolov:

sábado, 3 de dezembro de 2011

O FOGO

Hoje acendi a lareira pela primeira vez este ano. Já me tinha esquecido da beleza que é ver as pinhas entrar lentamente em combustão, brilhantes, vermelhas, passando depois o seu calor aos tarolos de lenha, que se resguardam, receosos de iniciar o seu processo de destruição.
Durante minutos sem fim, ouve-se como que uma música em surdina, um sopro de vento e os
estalos da madeira renitente à chama. Subitamente, um bailado initerrupto, enorme, espantoso, tremeluzente irrompe no meio do nada e uma sensação de bem estar

invade o ar.

Pouco faço...se não ouvir música de Bach baixinho...e olhar as chamas como que hipnotizada por tamanho milagre natural.

sábado, 28 de maio de 2011

Em especial para a Graciete Rietsch



Ontem a minha Amiga recordou um poema, de que já não se lembrava bem, mas acabava com um verso sobre flores. Encontrei este num blogue -francislive.
Pode ser que seja o seu poema . Vai aqui ornamentado com mais algumas fotos das minhas.



É preciso avisar toda a gente
dar notícias informar prevenir
que por cada flor estrangulada
há milhões de sementes a florir.


É preciso avisar toda a gente
segredar a palavra e a senha
engrossando a verdade corrente
duma força que nada detenha.


É preciso avisar toda a gente
que há fogo no meio da floresta
e que os mortos apontam em frente
o caminho da esperança que resta.


É preciso avisar toda a gente
transmitindo este morse de dores.
É preciso imperioso e urgente
mais flores mais flores mais flores.


João Apolinário
(in Morse de sangue)

E se estiverem fartos de flores....paciência...elas perdurarão enquanto este blogue existir.

sábado, 25 de dezembro de 2010

A lareira



Sinto-me muito privilegiada por ter uma lareira em casa. Não a utilizo tantas vezes quanto gostaria porque já me custa um pouco mantê-la acesa, manusear os tarolos com perícia, gerir a quantidade de pinhas e acondicionar tudo bem para que o oxigénio continue a alimentar a chama. É uma arte, que aprendi com o meu Pai que adorava acender a lareira na nossa grande casa nos dias de festa ou quando estava realmente muito frio. Ele queixava-se de que não fazia mais nada e não parava quieto , mas todo aquele processo lhe era grato pelo prazer que nós sentíamos em redor do fogo. Eu sinto sempre uma verdadeira fascinação e também me quedo a olhar para a dança das chamas a rodopiar à volta dos pedaços de tronco e a contemplar as pinhas incandescentes.
Ainda hoje de manhã fui apanhar pinhas com os meus netos para o jardim da Faculdade de Ciências, onde existe um pinheiro enorme , mesmo ao fundo, num cantinho. Este ritual já é tradiocional nesta época, há três anos até fui sozinha e dei de cara com as gárgulas à volta da fonte, que olhavam para mim com cara de espanto. Hoje, quando lá chegámos , o meu neto mais velho constatou quase a chorar que não havia pinhas nenhumas no chão e que a árvore estava carregadinha delas lá em cima, tão alto!. Mas foi teimoso e resolveu aventurar-se numa zona mais perigosa, com roseiras selvagens que o picaram. Resultou em cheio. Encontrou umas vinte pinhas por baixo duns troncos quebrados que o mais novo queria à viva força trazer para casa:). Assim já pude hoje à tardinha gozar do verdadeiro prazer que é não fazer nada diante do mistério da combustão da madeiraa morrer na minha lareira.
A minha amiga Regina deve ter escrito alguns poemas acerca deste fenómeno, eu só consigo viver o poema dentro de mim, sem nada escrever...

quarta-feira, 28 de julho de 2010

sexta-feira, 5 de março de 2010

A pensar em Van Gogh

Sou uma privilegiada...estou sentada à lareira num maple de chintze a imitar os velhos sofás ingleses. Mandei-o fazer especialmente para refúgio da minha filha que detesta TV e gosta de ter um cantinho onde possa desligar do real , ler ou ouvir música....hoje sou eu a usufruir deste maravilhoso poiso. O fogo está já menos forte, com aquele tom de brasa, tão quente e atraente que quase não conseguimos desfitá-lo. A casa já estava quente, mas não dispenso esta visão.

Tenho muita música no meu I'Tunes e posso ouvir enquanto medito, recordo, nostalgio ( existe o verbo?) e contemplo as achas a extinguir-se lentamente.

Hoje vieram-me à ideia as telas de Van Gogh, vi-as no Museu de Amsterdam com o meu futuro ex- e ele, que sabia tudo, explicou-me imensa coisa sobre o pintor que eu ignorava. Foi o local onde há mais de quarenta anos começámos a namorar- Amsterdam. éramos tão novos! Van Gogh estará sempre ligado a meu ex-. Para "sofrer" um pouco mais, oiço o Don McLean a cantar uma canção maravilhosa em homenagem ao grande pintor.

Vai aqui com a letra. Deleitem-se com as pinturas e com a melodia feita à medida.



Starry, starry night.
Paint your palette blue and grey,
Look out on a summer's day,
With eyes that know the darkness in my soul.
Shadows on the hills,
Sketch the trees and the daffodils,
Catch the breeze and the winter chills,
In colors on the snowy linen land.

Now I understand what you tried to say to me,
How you suffered for your sanity,
How you tried to set them free.
They would not listen, they did not know how.
Perhaps they'll listen now.

Starry, starry night.
Flaming flowers that brightly blaze,
Swirling clouds in violet haze,
Reflect in Vincent's eyes of china blue.
Colors changing hue, morning field of amber grain,
Weathered faces lined in pain,
Are soothed beneath the artist's loving hand.

Now I understand what you tried to say to me,
How you suffered for your sanity,
How you tried to set them free.
They would not listen, they did not know how.
Perhaps they'll listen now.

For they could not love you,
But still your love was true.
And when no hope was left in sight
On that starry, starry night,
You took your life, as lovers often do.
But I could have told you, Vincent,
This world was never meant for one
As beautiful as you.

Starry, starry night.
Portraits hung in empty halls,
Frameless head on nameless walls,
With eyes that watch the world and can't forget.
Like the strangers that you've met,
The ragged men in the ragged clothes,
The silver thorn of bloody rose,
Lie crushed and broken on the virgin snow.

Now I think I know what you tried to say to me,
How you suffered for your sanity,
How you tried to set them free.
They would not listen, they're not listening still.
Perhaps they never will...


Há quanto tempo não vejo uma starry night? Desde Setembro....estrelas ??? Que saudades das noites de verão....há meses que chove demais!

Mas continuo a achar que sou uma privilegiada...

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O FOGO



Sempre me atraiu e sempre me fez sofrer.

Tenho os chamados " mixed feelings" acerca deste elemento, mas quando me sento á lareira a ouvir música - quase todas as noites agora no inverno - vôo para um país diferente e sinto um conforto interior que quase considero privilégio nos dias de hoje.E é.


Uma das minhas piores experiências na vida foi precisamente um acidente com fogo em casa, há 25 anos. Foi dramático, causado por uma camilha que pegou fogo à alcatifa e fez arder metade da sala, onde tinha prendas do meu casamento e mobílias antigas da avó do meu marido. Sem falar dos manuais escolares que estava a fazer em cima da dita mesa e da caderneta dos alunos com as notas todas. Estávamos nas vésperas do Natal e eu tinha conselhos de turma para atribuir classificações. Um drama autêntico. Durante meses tive de aturar um marido desfeito, uma casa negra e sem lugar para estar, três crianças de 4, 5 e 8 anos que não compreendiam o que se tinha passado e porque é que a sala tinha desaparecido num ápice....e, semanas depois, as intermináveis obras em casa, a ausencia do marido que só vinha dormir a casa, a Escola, as aulas e os remorsos.
Não sei como sobrevivi. Mas cá estou!

Entrei este mês num challenge - concurso do Woophy - sobre o tema FIRE. Arrisquei e tirei várias fotos. Nenhuma delas sofreu alterações excepto a de cor preto e branco. Uma delas já foi muito apreciada pelos fotografos do Woophy, pode ser que ganhe:)). Cliquem nelas, são muito mais belas em formato grande.



terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O fogo

Um destes dias acendi a lareira e estive horas esquecidas a olhar para as chamas a dançar sobre os toros ao som do vento que se ouvia através da chaminé. Era um cenário pictórico mais impressionante do que muitas imagens que se vêem do fogo. Adoro acender a lareira , mesmo quando não está frio, acho o cenário lindíssimo. Não consigo ler, só ouvir o meu Ipod e fitar o fogo. A vida corre lá fora e eu muda e queda a contemplar aquele fenómeno, a lenha a ser consumida pelo calor em brasa.


(clicar)

Devia estar inspirada por essa visão quando pintei este quadro.Saiu bastante chocante nas cores e no movimento dos traços. É grande, mede 1mx80cm. Gosto dele, apesar de não ser o meu habitual.

Vai aqui um poema para amenizar. É talvez o que melhor se coaduna com o meu pensar ao olhar para a lareira acesa no quentinho da minha casa.

Meto-me para Dentro

Meto-me para dentro, e fecho a janela.
Trazem o candeeiro e dão as boas noites,
E a minha voz contente dá as boas noites.
Oxalá a minha vida seja sempre isto:
O dia cheio de sol, ou suave de chuva,
Ou tempestuoso como se acabasse o Mundo,
A tarde suave e os ranchos que passam
Fitados com interesse da janela,
O último olhar amigo dado ao sossego das árvores,
E depois, fechada a janela, o candeeiro aceso,
Sem ler nada, nem pensar em nada, nem dormir,
Sentir a vida correr por mim como um rio por seu leito.
E lá fora um grande silêncio como um deus que dorme.


Fernando Pessoa