terça-feira, 12 de outubro de 2010

Mar

A minha paixão pelo mar é ilimitada, como ilimitado é o próprio mar, que, diante de nós, só acaba na linha do horizonte. Nunca tive paixão pelo campo, embora goste de sentir o cheiro e a liberdade dos verdes sem fim. Estive muitas vezes nas montanhas, nos Alpes da Baviera, que me atraem e repelem simultaneamente, a brancura encanta-me mas a proximidade do céu assusta-me. Sinto claustrofobia num espaço imenso, o que é um paradoxo.
Nunca pintei montanhas. Já pintei o mar e os campos ou florestas. Desta vez optei pelo primeiro e gosto da imagem do mar neste quadro em acrílico.



E um poema que exalta o mar como eu nunca saberia descrevê-lo.

Carta ao Mar

Deixa escrever-te, verde mar antigo,
Largo Oceano, velho deus limoso,
Coração sempre lyrico, choroso,
E terno visionario, meu amigo!

Das bandas do poente lamentoso
Quando o vermelho sol vae ter comtigo,
- Nada é mais grande, nobre e doloroso,
Do que tu, - vasto e humido jazigo!

Nada é mais triste, tragico e profundo!
Ninguem te vence ou te venceu no mundo!...
Mas tambem, quem te poude consollar?!

Tu és Força, Arte, Amor, por excellencia! -
E, comtudo, ouve-o aqui, em confidencia;
- A Musica é mais triste inda que o Mar!


António Gomes Leal, in 'Claridades do Sul'