quarta-feira, 11 de maio de 2011

Azuis e verdes



São cores frias, aparentemente, mas talvez aquelas com que gosto mais de trabalhar. Já tinha feito este quadro há tempos, mas hoje retoquei-o, envernizei-o e ficou pronto. É em MDF grosso, pode-se pôr assim na parede sem necessidade de moldura. Esta existe apenas na foto. É um abstracto, sem nome.

E como há muito não coloco aqui nenhum poema, desta vez vai este:

HORIZONTE

Ó mar anterior a nós, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mysterio,
Abria em flor o Longe, e o Sul siderio
'Splendia sobre as naus da iniciação.


Linha severa da longínqua costa -
Quando a nau se approxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe, a abstracta linha.


O sonho é ver as formas invisíveis
Da distancia imprecisa, e, com sensiveis
Movimentos da esp'rança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte-
Os beijos merecidos da Verdade.


FERNANDO PESSOA