quinta-feira, 8 de outubro de 2009

À minha amiga Regina ...e com ela também




Reencontrei a Regina após uns três anos de ausência. Está igual a si própria, continua a falar muito depressa como se fosse já atrasada para apanhar o comboio,mas mantém a mesma serenidade e simplicidade que me fizeram admirá-la mais do que a muitas outras colegas da minha escola.

Andamos no atelier "Utopia" - que felizmente é uma realidade às 3ª e 5ª - convivemos e aprendemos a pintar. Hoje foi pastel, há dias acrílico, para mim é tudo encantamento e quanto mais sei disto, mais me apetece saber. Acho que perdi anos da minha vida a fazer malha, quando poderia ter estado a criar algo mais belo.

Há dias fiz estes dois abstractos. A Regina pediu-me numa entrada abaixo que vos mostrasse aqui o trabalho feito. Decidi fazê-lo, mas não sem colocar dois poemas dela - um deles ainda não publicado - a acompanhar a "obra". Esta entrada é das duas. E oxalá signifique o retorno a uma amizade forever.

Cores outonais
O muro de xisto é já uma ruína mas a vinha,
velha e tão cansada,
exibe de novo os seus tons outonais.
Numa subtil gradação de frequências
a folhagem é agora amarelada, acobreada,
cor de vinho, acastanhada.
Ostentam cores outonais também, mais além,
a pereira e o marmeleiro.
Enquanto transferências de electrões
desencadeiam oxidações e reduções,
carotenos e antocianinas
conjugam-se em paisagens quase surreais.
Sentada numa fraga, ao lado de um sobreiro,
quero perpetuar estes instantes,
transformar em eterno este momento,
mas o agora de há pouco já é antes,
nesta implacável corrida do tempo.

Magnetismo Terrestre - 2006



Poalha etérea

No labirinto da memória
uma imagem perdida.
Uma imagem fugaz, discreta.
No bastidor, esticado, o alvo linho
de onde em onde maculado
por um bordado azul,
o azul do mar de Creta.
Não sei se era lençol, se era toalha
Na memória, apenas o bordado azul
e a brancura do linho.
Tudo o mais se esfumou
numa poalha etérea,
não sei se onda se matéria,
que o tempo dispersou.

Regina