Ontem, Domingo, tive cá os meus dois homenzinhos, de 5 e 7 anos. Era expressamente proibido ver TV durante uma hora e meia. As actividades que se perspectivavam não eram muitas: ler, recortar e colar ( já houve tempo em que adoravam fazer isto), jogar jogos, pintar....optaram pela última e, entusiasmados, escolheram as telas que queriam das que havia aqui em casa. Estiveram entretidos durante uma hora, cada um com um avental e T-shirt velha, pinceis e bisnagas de cores diferentes. Os quadros ficaram bonitos, um abstracto , o outro mais concreto, mas foram ainda húmidos para casa...para mostrar a obra feita aos pais e provar que não tinha havido TV, a não ser no resto do tempo que sobrou. Para uma criança não tem TV em casa, esta exerce uma atracção fatal em casa dos Avós e é muito mais difícil para nós contermos esse ímpeto . Desta vez e já na véspera, consegui demovê-los do Panda Biggs, que é agora a coqueluche dos miudos, com os seus personagens esquisitos. Todos passámos pelo mesmo. O fruto proibido é o mais apetecido....
Hoje fui eu que resolvi não ver noticiários, embora esteja interessada em saber a composição do governo. No Mezzo estavam a dar jazz e não me apetecia ouvir. Fui para a cozinha com a uma ideia e acabei por me sentar a pintar sobre uma tela que já tinha sido pintada anteriormene. Saiu isto.
Tenho o quadro aqui na estante em frente. Parece quase uma aguarela, mas é acrílico com bastante água. Cada vez que olho para ele, à medida que seca, fica diferente.
Evado-me pelos campos e campinas dum país lá longe que nem sei qual é.Gosto do céu, dos montes, do espaço infinito...respiro nele e ganho alma.
nasceu na minha família. É já da 4ª geração. Impressionante. Dos meus Pais nasceram oito filhos, desses geraram-se 21 netos, que por sua vez já tiveram 27 filhos, sendo este bébé o 28º. Já lhes perdi a conta aos nomes e então datas de nascimento, só indo ao blogue da família verificar. Já há coincidências várias nas datas de aniversários. No dia dos meus anos fazem anos mais dois sobrinhos, um em Lisboa, outra em Coimbra e eu no Porto. Não dá para festejar em conjunto:) Há os loiros, tipo nórdico, há os morenos tipo indiano, há de olhos azuis enormes, os mais expressivos e menos expressivos. Têm um ar feliz, quando os vemos nas poucas festas de família. Uma coisa é certa, são sinal de VIDA e de certeza. Os meus pais, lá onde estão, devem apreciar esta prole com desvanecimento. Eles merecem ser recordados, mais do que ninguém. Viveram dum modo ímpar. E criaram uma grande Família. Que irá prolongar-se para o Futuro.
Ontem escrevi um post enorme sobre as minhas memórias da infância e a dos meus filhos, comparando os modos de entretenimento que as duas gerações tinham usufruído.Apaguei-o sem querer e não sei como, nada ficou gravado. Resolvi escrever outro parecido, usando as ilustrações que tinha escolhido.
Lembro-me de ser bem pequena, quando íamos passar os sábados à tarde a casa da Avó ( os Avós eram dois, mas nós dizíamos Casa da Avó) com as minhas irmãs. Como éramos oito, tínhamos de ir em duas fornadas de 4+4, se não a pobre da Avó, que era uma santa, teria tido muito que aturar. Mesmo assim , ela tinha uma paciência enorme, contava-nos histórias infindáveis, algumas só suas e que, infelizmente, morreram com ela porque nenhum de nós é capaz agora de as contar tal qual. Tinha um livro grande cor de rosa com as Fábulas de La Fontaine, com ilustrações lindíssimas e os livros da Bécassine, que traziam de França e que ela nos traduzia, modificando o que nos pudesse pôr tristes:)). Mesmo assim, havia partes em que a Bécassine fazia burrices por ser pouco dotada e isso comovia-me até às lágrimas.Devo dizer que sempre fui uma sentimental! As 19 horas era o momento sagrado da Emissão Infantil. Íamos para o quarto do Avô, interrompíamos a sua música clássica para ouvir as horrendas vozes das Odete de Saint Maurice e filhas e da Madalena Pataxo, uma espécie de novelas como a Polyanna e outras ainda mais pirosas, que nós adorávamos. As emissões de histórias radiofónicas ainda se prolongavam até 2ª feira com o Cantinho dos Miudos, as 17.10, exactamente quando nos iam buscar ao colégio; aí ouvíamos no carro emissões brasileiras, contos de Grimm e de Andersen, depois feitos em filmes da Disney.Já as sabíamos de cor, mas não fazia mal.Pelo menos não ouvíamos o Teatro Tide !!!
Não havia televisão. O meu Pai só a comprou em 1969 quando o Armstrong pôs o pé na Lua. Antes disso, cada vez que queríamos ver um dos jogos do Benfica na Europa, íamos a casa duns vizinhos onde nos amontoávamos na sala a sofrer e a torcer. O Mundial de 66foi visto em casa do meu irmão , que tonha arranjado uma TV pequenina e a punha no cimo dum armário para que todos pudéssemos ver. O Eusébio parecia uma formiguinha a correr de um lado para o outro.. Ficámos todos com os olhos em bico naquele jogo contra a Coreia e chorámos de raiva no Portugal-Inglaterra do nosso descontentamento.
Mais tarde, os tempos eram outros, os meus filhos eram crianças e passavam bastante tempo a ver as emissões a preto e branco para crianças infindáveis como a Heidi e o Marco, o Era uma Vez o Homem, o Conan, o Dartacão, etc. E nós com eles a criticar as vozes da Candy Candy e os olhos em bico de todos os herois da banda desenhada japonesa.
Hoje os meus netos vêm cá jantar e dormir pela primeira vez. Até agora não tinha espaço para eles, mas já não há mais alibis....tenho dois quartos vazios e um deles já todo arranjadinho para dormirem os dois juntos. Já sei que vão querer ver o Panda Biggs, neste momento a alegria da pequenada de sete-oito anos. Espero que não acordem às 6 da manhã com a excitação!! Curioso que os filmes para crianças ainda nos presenteiam com as mesmas vozes irritantes de sempre. Eu com paciência de Avó estarei feliz por tê-los cá e poder mostrar-lhes como gosto deles, apesar de às vezes me parecer que já vivi mais de dez vidas e que já não tenho muito por onde.
Fica aqui um genérico que ainda me faz chorar...il était une fois l'homme, la vie et l'espace,.
Hoje, 26, celebra a Igreja o dia de S. Ana e S. Joaquim, avós de Jesus, pelas Escrituras. Não preciso de dias especiais para comemorar o facto de ser Avó. Nem todos os dias são dedicados aos netos, muitos deles não são e nem sequer os vejo. Estão porém sempre no meu pensamento. E esse pensamento é afectuoso e doce, quente e saboroso.
Ontem fui passar parte do serão com eles e houve concerto. Pai e filhos tocaram para mim, senti-me bem e eles estavam felizes. O mais velho já toca violino com bastante precisão e sobretudo com expressão, o que me comove. O mais novo toca violoncelo ainda incipiente, mas acima de tudo adora shows, não pára de dançar, cantar, saltar, tudo ao ritmo da música, que lhe está na massa do sangue. O meu filho está a tocar piano cada vez melhor desde que compraram um instrumento novo para substituir o alemão muito antigo que viera de casa da minha Mãe em Lisboa e estava a desfazer-se.Para minha alegria tocou uma sonata de Beethoven, Bach e o Arabesque nº1 de Debussy que já a minha mãe tocava, em dias de calmaria.
A tarde estava a findar, a Lua Cheia a erguer-se avermelhada e o meu neto mais novo exclamou: "A Lua até parece a Terra! Mas não é, pois não? Nós estamos aqui em cima da Terra, não podemos vê-la assim redonda, tem de ser a Lua!" Depois acrescentou: "O Sol é uma estrela de fogo e tem tanta luz que ilumina tudo. A Lua não!"
Mas felizmente, há luar...como diria Stau Monteiro...
Fica aqui um poema aos avós modernos ( brasileiro)
Vovó século XXI
Como é bom ter uma avó! Companheira que ela só, Conta histórias de encantar Branca de Neve - Cinderela... Canta canções de ninar Não me imagino sem ela
Conta que o lobo mau é bom Que não comeu a avozinha Foi tudo brincadeirinha Pois quando o encontrou No caminho da floresta Deu-lhe tanto carinho Que o lobo virou bonzinho Mais parecia um cachorrinho E pra ele tudo era festa
Ela inventa, e diz então Que a vida é uma comprida linha que a ponta final é a dela E que a do início é a minha Tenho que correr pra pegá-la Soltando a imaginação Um dia vou alcançá-la
Sabem que a minha avó, Leva-me a passear Acompanha-me à natação E ensina-me a nadar?
Quando ela está por perto Não tenho medo nenhum, A minha avó é decerto Vovó século vinte e um!
Isabel Correia da Silva e Sousa
E um vídeo lindo com a música e imagens a condizer: