Vamos com prazer para a praia, mesmo que seja em Março.
Hoje nem era preciso casaco, tive de o meter no saco, dobrei as calças até ao joelho, descalcei as botas, arregacei as mangas e , mesmo assim, estava calor intenso cá fora na varanda do meu querido café dos Ingleses. Com receio do sol todosos comensais se tinham abrigado debaixo dos guarda sois ou no café, onde as janelas panorâmicas deixavam avistar um mar imenso, com ondas altas, desdobrando-se umas sobre as outras e vindo morrer em branca espuma aos nossos pés.
Gosto daquela varanda porque tenho sempre a sensação de estar num navio, sós se vê uma nesga de areia e as rochas. A praia maior fica do outro lado. Hoje já havia alguns afoitos a molhar os pés ou mesmo um mergulho rápido. Quase não havia gaivotas, deviam estar abrigadas do calor em qualquer outro lado mais fresco. Cheirava a maresia quando cheguei, o que nem sempre acontece. É um cheiro a algas que me inebria. Li mais umas páginas de "pequenas Memórias" de Saramago,um livrinho muito interessante, que me está a agradar imenso pela ironia e facilidade com que descreve as suas pequenas façanhas da infância e adolescência.
Hoje ouvi Vivaldi, não muito alto para não abafar o barulho das ondas, que era tronitruante. Este compositor é sempre surpreendente para mim, agora que oiço o meu neto tocá-lo duma forma tão expressiva. Os concertos para flauta, oboé ou violino são lindíssimos e transmitem uma alegria íntima e serena.
fica aqui um excerto de La Notte, concerto para flauta dos que mais gosto. O meu filho tocava-o em tempos...que saudades.
sábado, 10 de março de 2012
quinta-feira, 8 de março de 2012
Parabéns, Pai
Embora hoje seja o Dia Internacional da Mulher, não posso deixar de falar de um Homem que nasceu há precisamente 100 anos em Goa, Índia. É o meu Pai. Será sempre um exemplo, um pilar, um orgulho e uma memória viva em todos nós seus filhos, netos e bisnetos. Faleceu há 32 anos, cedo demais, mas deixou uma obra excepcional na área da Pediatria e um legado importante para a sua família tão numerosa.
Já aqui escrevi sobre o seu percurso em 5/12/2010, no aniversário da sua morte, de modo que não vou fazê-lo de novo, remeto-vos para um artigo escrito pelo meu Irmão Mário na revista Pais & Filhos
http://www.facebook.com/#!/photo.php?fbid=10150571002276008&set=pu.173249606007&type=1&theater
>
Fica aqui um quadro que fiz há tempos em MDF e que lhe dedico, ele que amava a Natureza e que nos ensinou a amá-la também dum modo especial. Adiciono um excerto da Sinfonia nº 5 da Mahler, o célebre Adagietto, que serve de background ao filme que ele tanto apreciava : Morte em Veneza de Luschino Visconti.
Já aqui escrevi sobre o seu percurso em 5/12/2010, no aniversário da sua morte, de modo que não vou fazê-lo de novo, remeto-vos para um artigo escrito pelo meu Irmão Mário na revista Pais & Filhos
http://www.facebook.com/#!/photo.php?fbid=10150571002276008&set=pu.173249606007&type=1&theater
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Fica aqui um quadro que fiz há tempos em MDF e que lhe dedico, ele que amava a Natureza e que nos ensinou a amá-la também dum modo especial. Adiciono um excerto da Sinfonia nº 5 da Mahler, o célebre Adagietto, que serve de background ao filme que ele tanto apreciava : Morte em Veneza de Luschino Visconti.
segunda-feira, 5 de março de 2012
Vergonha
É o nome dum filme, não me refiro à situação do país. Até agora, consegui não misturar a política com as artes, mesmo que haja relações entre ambas. E assim farei sempre que possível.
Fui vê-lo ontem, principalmente por causa doactor principal , Michael Fassbender, um germano-irlandês ( mistura explosiva) que me fascina. Já o vira a interpretar Rochesterem Jane Eyre, um dos melhores filmes que vi no ano passado e em Um Método Perigoso, em que interpreta Carl Jung, contracenando com a linda Keira Knightley
. É um filme diferente de que, paradoxalmente, se aprende a gostar, finda a exibição e passadas umas horas; deixa-nos a pensar, a matutar e a admirar a sobriedade do décor, a profundidade psicológica daquela personagem, o ghetto em que vive e o desespero perante a inevitabilidade da sua dependência.
Este tipo de filmes lentos e intimistas causam algum embaraço aos espectadores. Reparei que muitos ficaram sentados nas cadeiras, mesmo depois do filme terminar.
Vergonha é considerado um excelente filme pelos críticos, um filme que Hollywood ignorou, não havendo qualquer nomeação para óscares, porventura porque é um filme ousado, com cenas de sexo explícitas e um tema pouco ortodoxo.
Fui vê-lo ontem, principalmente por causa doactor principal , Michael Fassbender, um germano-irlandês ( mistura explosiva) que me fascina. Já o vira a interpretar Rochesterem Jane Eyre, um dos melhores filmes que vi no ano passado e em Um Método Perigoso, em que interpreta Carl Jung, contracenando com a linda Keira Knightley
. É um filme diferente de que, paradoxalmente, se aprende a gostar, finda a exibição e passadas umas horas; deixa-nos a pensar, a matutar e a admirar a sobriedade do décor, a profundidade psicológica daquela personagem, o ghetto em que vive e o desespero perante a inevitabilidade da sua dependência.
Este tipo de filmes lentos e intimistas causam algum embaraço aos espectadores. Reparei que muitos ficaram sentados nas cadeiras, mesmo depois do filme terminar.
Vergonha é considerado um excelente filme pelos críticos, um filme que Hollywood ignorou, não havendo qualquer nomeação para óscares, porventura porque é um filme ousado, com cenas de sexo explícitas e um tema pouco ortodoxo.
sábado, 3 de março de 2012
Mar português
Já pintei muitos quadros e quadrinhos sobre o mar. Consigo fazer sempre tons diferentes, usando texturas apelativas ou ausência delas, mais areia, menos espuma, mais azul ou verde, céus cinzentos, nuvens baixas, tons pastel, mais dramatismo, mais suavidade.
Nunca pintei em aguarela de modo que hoje resolvi dedicar-me a esse material. Usei muita água, mas por fim não ficou tão transparente quanto desejava. Mesmo assim gosto dele. É diferente de todos os outros que já fiz.
Hoje descobri um site com obras completas de Pessoa tal qual foram publicadas em 1ª edição. Tem números da revista Orfeu, poemas em inglês, A Mensagem ... tudo editado em papel (?) pardacento, como se tivesse muitos anos. Aliciante. Li A Mensagem toda, que já há muito não relia. É magnífico.
O site chama-se E-BOOK PORTUGAL e pode-se fazer o download de 10 obras.
Vai aqui um poema muito belo como tantos outros que falam do mar e de descobertas.
AS ILHAS AFORTUNADAS
Que voz vem no som das ondas
Que não é a voz do mar?
E a voz de alguém que nos fala,
Mas que, se escutarmos, cala,
Por ter havido escutar.
E só se, meio dormindo,
Sem saber de ouvir ouvimos
Que ela nos diz a esperança
A que, como uma criança
Dormente, a dormir sorrimos.
São ilhas afortunadas
São terras sem ter lugar,
Onde o Rei mora esperando.
Mas, se vamos despertando
Cala a voz. e há só o mar.
Fernando Pessoa ( O Encoberto)
O mar em aguarela
Já pintei muitos quadros e quadrinhos sobre o mar. Consigo fazer sempre tos diferentes, texturas apelativas ou ausência delas, mais areia, menos espuma, mais azul ou verde, céus cinzentos, nuvens baixas, tons pastel. Nunca pintei em aguarela de modo que hoje resolvi dedicar-me a esse material. Usei muita água, mas por fim nãoficou tão transparente quanto desejava. Gosto dele. É diferente de todos os outros que já fiz.
Hoje descobri um site com obras completas de Pessoa tal qual foram publicadas em 1ª edição. Tem numeros da revista Orfeu, poemas em inglês e tudo escrito em papel (?) pardacento, como se tivesse muitos anos.
O site chama-se E-BOOK PORTUGAL e pode-se fazer o download de 10 obras.
Hoje descobri um site com obras completas de Pessoa tal qual foram publicadas em 1ª edição. Tem numeros da revista Orfeu, poemas em inglês e tudo escrito em papel (?) pardacento, como se tivesse muitos anos.
O site chama-se E-BOOK PORTUGAL e pode-se fazer o download de 10 obras.
quinta-feira, 1 de março de 2012
A seca
Hoje choveu. Finalmente.
Não me parece, no entanto, e sem querer ser fatalista, que estas pingas de água venham matar a sede de toda uma região que há muito espera pelas chuvas benfazejas do inverno.
Quando andava na FLUL, em 1964, deram-nos um poema de Florbela Espanca, chamado Árvores do Alentejo para analisar quer quanto à forma, quer quanto ao conteúdo e mensagem, num exame de Teoria da Literatura, uma das minhas cadeiras favoritas e aquela a que obtive a melhor nota em todo o curso. Penso que a análise deste poema me ajudou a conseguir um resultado tão satisfatório.
Fica aqui um pequeno quadro que fiz hoje em memória desse episódio e o poema em questão:
ÁRVORES DO ALENTEJO
Horas mortas… Curvada aos pés do Monte
A planície é um brasido… e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção duma fonte!
E quando, manhã alta, o sol posponte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!
Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!
Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
- Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!
Florbela Espanca - Charneca Em Flor
Não me parece, no entanto, e sem querer ser fatalista, que estas pingas de água venham matar a sede de toda uma região que há muito espera pelas chuvas benfazejas do inverno.
Quando andava na FLUL, em 1964, deram-nos um poema de Florbela Espanca, chamado Árvores do Alentejo para analisar quer quanto à forma, quer quanto ao conteúdo e mensagem, num exame de Teoria da Literatura, uma das minhas cadeiras favoritas e aquela a que obtive a melhor nota em todo o curso. Penso que a análise deste poema me ajudou a conseguir um resultado tão satisfatório.
Fica aqui um pequeno quadro que fiz hoje em memória desse episódio e o poema em questão:
ÁRVORES DO ALENTEJO
Horas mortas… Curvada aos pés do Monte
A planície é um brasido… e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção duma fonte!
E quando, manhã alta, o sol posponte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!
Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!
Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
- Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!
Florbela Espanca - Charneca Em Flor
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
And the Oscar goes to...
Sempre gostei de ver a cerimónia dos Óscars da Academia de Hollywod. Não por questão de glamour ou moda, mas porque gosto de cinema a sério, gosto de ver pequenos excertos de filmes, os actores ao vivo (por assim dizer), os números extras,as memórias dos que já partiram, depoimentos dos mais novos e a entrega das estatuetas, mesmo que nem sempre correspondam às minhas expectativas.Alem disso,penso que a cerimónia é parte importante da cultura americana, que sempre me fascinou, independentemente das suas decisões políticas.
Durante anos assistia a metade do show - a minha filha via tudo - e ia para a cama deixando a gravar a cerimónia. Tinha aulas cedo. Depois deixei de ter aulas à 2ª feira pelo facto de ser orientadora de estágio e passei a ver tudo, embora gravasse na mesma a CNN. No dia seguinte, levava a cassete de vídeo para a aula e fazia uma surpresa aos meus alunos, que ficavam felizes, quando viam os pormenores falado em inglês sem legendas. Era, em geral, uma das aulas mais produtivas em termos de vocabulário, os alunos tinham uma ficha de trabalho que preenchiam com informação que obtinham no vídeo. Felizmente, nesse tempo, o cinema era um hobby de muitos alunos, conheciam os actores e não estavam tão envolvidos na cultura portuguesa como agora. Preferiam filmes americanos a telenovelas brasileiras e isso era excelente para aprender inglês.
Há filmes excepcionais que passam no cinema sem terem grande êxito, eu achava que os professores tinham obrigação de informar os alunos e mesmo de ir com eles ver certos filmes. Fi-lo múltiplas vezes com sucesso, às vezes na primeira semana de aulas para criar um ambiente de amizade com os alunos. Lembro-me de um filme a que levei alunos do 12º ano Goodbye Lenine outro onde fui com os do 9º ano Nightmare Before Christmas. Nunca me arrependi de os levar.
Durante anos assistia a metade do show - a minha filha via tudo - e ia para a cama deixando a gravar a cerimónia. Tinha aulas cedo. Depois deixei de ter aulas à 2ª feira pelo facto de ser orientadora de estágio e passei a ver tudo, embora gravasse na mesma a CNN. No dia seguinte, levava a cassete de vídeo para a aula e fazia uma surpresa aos meus alunos, que ficavam felizes, quando viam os pormenores falado em inglês sem legendas. Era, em geral, uma das aulas mais produtivas em termos de vocabulário, os alunos tinham uma ficha de trabalho que preenchiam com informação que obtinham no vídeo. Felizmente, nesse tempo, o cinema era um hobby de muitos alunos, conheciam os actores e não estavam tão envolvidos na cultura portuguesa como agora. Preferiam filmes americanos a telenovelas brasileiras e isso era excelente para aprender inglês.
Há filmes excepcionais que passam no cinema sem terem grande êxito, eu achava que os professores tinham obrigação de informar os alunos e mesmo de ir com eles ver certos filmes. Fi-lo múltiplas vezes com sucesso, às vezes na primeira semana de aulas para criar um ambiente de amizade com os alunos. Lembro-me de um filme a que levei alunos do 12º ano Goodbye Lenine outro onde fui com os do 9º ano Nightmare Before Christmas. Nunca me arrependi de os levar.
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