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terça-feira, 30 de agosto de 2011

Serralves forever

É um local magnífico....mesmo em dia de chuva miudinha, daquela que molha os tolos e os que o não são tanto! O parque agradeceu, revelando-se no seu verde mais vibrante!
A minha filha faz anos e quis festejá-los indo ao museu. No ano passado fomos ao Sea Life e há dois anos à Feira do Artesanato. Almoçámos juntos em família, mas depois o resto da tarde é sempre dela e minha já há anos. Não é preciso muita gente, ambas temos gostos parecido ,amamos a beleza e sobretudo, o silêncio. O meu neto compôs o ramalhete.

A exposição OFF THE WALL é interessante, uma série de estruturas em madeira que convidam os visitantes a entrarem no jogo - tipo parque infantil - rodando em rodas gigantes, escorregando por ladeiras íngremes, subindo muros altos,  ou fazendo sobe e desce. É curioso como uma coisa banal se torna emocionante...
O resto das exposições não me entusiasmou, acho que usam e abusam dos vídeos, que aparentemente não nos mostram nada de muito atractivo, corpos nus, mexendo-se para cá e para lá...mas sem a magia duma dança como a de Pina Bausch, por exemplo. As fotografias expostas eram tristonhas, tudo a preto e branco, não lhes dei demasiada atenção pois tinha levado o meu neto e ele é ainda demasiado novinho para as apreciar, ao contrário da primeira exposição, que ele já tinha visto e adorou.
Não deu para passear no parque, apesar de ter pago bilhete para tal. A chuva molhava a sério, contentámo-nos em admirar o parque pelas janelas imensas que tornam aquele espaço magnífico. Na loja, comprei uma recordaçãozinha para o meu neto - um chapéu de chuva enorme a dizer Serralves -  e uma prenda para a minha filha...just a symbol.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Beethoven e o meu Avô



Em geral, quando se fala dos concertos de Beethoven, cingimo-nos aos de piano, do 1º ao 5º todos são muito populares, sobretudo os 3,4 e 5. Já gostei mais duns que outros, mas ouvi-los faz-me sempre go down memory lane, ou seja, voltar ao bau de memórias, à casa dos meus Avós , na Rua Vale do Pereiro em Lisboa.

O escritório do meu Avô era um pequeno mundo de coisas insólitas para mim, em criança. Tinha estantes escuras a toda a volta, estantes essas que ainda estão em casa da minha irmã, já bastante carcomidas.No meio dos livros havia de tudo, caveiras dos mais variados materiais e feitios, mas sempre com os dentes de fora e olhos metidos para dentro, assustadoras q.b., Mefistófeles com expressões maléficas e corninhos, um dos quais foi oferecido ao meu ex- pela minha Avó, esculturas de compositores clássicos trazidos religiosamente das suas viagens, recordações, postais e fotografias. Era um manancial dele, só dele. A secretária era uma delícia para o olhar, com lápis dos mais diversos tamanhos, muitos pequeninos, que ele aparava com uma faquinha especial, tinteiros e penas, com as quais escreveu alguns dos seus livros sobre História de Portugal, mata-borrões cor de rosa com pega de prata, facas de cortar papel, gavetas e gavetinhas, moedas, recortes dos jornais, etc. As lombadas dos livros eram muitas vezes feitas por ele e gravadas com tinta dourada. As fotografias a preto e branco eram pintadas a cores e as nossas carinhas levavam make-up que ele carinhosamente aplicava para que parecêssemos mais saudáveis:). Tinha também esculturas de crianças,por todo o lado; uma com a pauta do-re-mi-fa-sol que nós adorávamos.
E porquê falar de Beethoven neste contexto? Porque oiço o concerto de violino opus 61 interpretado maravilhosamente no Mezzo por um violinista que desconheço e percorro o caminho até aos meus dez anos, em 1956, quando os meus pais me levaram a um concerto pela primeira vez. Tocava o David Oistrack, um monstro do violino, russo, gordinho, com os dedos ágeis dum jovem. Sempre adorei este concerto que se inicia com o suave batuque do tambor.
O meu avô costumava deitar-se numa chaise longue forrada de veludo e cujos braços acabavam em forma de mãos. Escolhia a Emissora 2 e ouvia todos os concertos que transmitiam durante o dia - os que ele gostava e não considerava "palha".
Ouvi este e muitos outros concertos sentada ao colo dele ou então já na minha caminha, com a porta aberta, não muito longe do escritório. Beethoven era o seu compositor de eleição, a par de Verdi.

O violino é um instrumento lindíssimo. Estou a ver o meu neto a tocar daqui a uns anos um concerto destes. Deus queira.

É assim a evolução das gerações, o milagre das famílias e o que nos anima a viver o nosso dia-dia, com os anos a correr cada vez mais depressa.

E do concerto de violino - interceptado por uma chamada no skype do meu filho que está em San Francisco - passámos para a 5ª Sinfonia de Beethoven. E agora relembro as tardes em que eu tentava tocar o Andante no piano, simplificado, com o meu Avô a dirigi-lo com o braço, dando enfase aos FF - fortíssimos - para que a peça fosse tocada com expressão. Eu obedecia e vibrava.

E com esta oferta musical da TV....como aguentar os debates políticos e pensar em eleições? Não se pode votar em Beethoven, infelizmente.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Swan Lake- vivências infantis

Quando eu tinha dez anos, os meus Pais resolveram ir numa viagem a França, Inglaterra e Escócia (ao Festival de Edimburgo) e escolheram os meus irmãos mais velhos para os acompanharem. os cinco mais novos ficaram todos em casa com os meus Avós. Os meus Pais foram de carro e só cabiam tres filhos, era uma longa viagem. É claro que fiquei triste, durante dias chorei com saudades da minha Mãe e com um sentimento de injustiça, que nunca foi inteiramente sanado.
Passei os dias à espera que voltassem e, ao menos, trouxessem algumas coisas giras que não houvesse em Portugal - como as bics, gabardinas, livros ou pastas para o colégio.
Quando chegaram, as minhas irmãs vinham excitadíssimas. Mostraram as prendas de que já nem me lembro. Mas houve uma que me ficou na memória: dois discos -albuns em vinil do bailado : O Lago dos Cisnes - Swan Lake de Tchaikovsky - lindíssimos com fundo azul escuro e as figuras do par principal em branco. Parece que os estou a ver. As minhas irmãs tinham ido ver o ballet em Edimburgo e contaram-me a história toda, com pormenores, á medida que íamos ouvindo o disco.
Fiquei completamente "apanhada". Vi o conto na minha cabeça dezenas de vezes como se tivesse lido a história em livro ou visto o filme, não conseguia pensar noutra coisa, passei horas a ouvir e ouvir os discos, sentada no chão ao pé do móvel radio-gira discos. Não sei se chorei com a morte dos dois amantes no fim,mas aquela música arrebatava-me e fazia-me sonhar como se eu própria estivesse envolvida num conto de fadas, de bruxos e de princesas enfeitiçadas. A minha imaginação criava o resto, não havia filmes, nem vídeos, nem TV, nem suportes visuais. A minha mente encheu-se de imagens inventadas, que ainda hoje vejo. Nenhum espectáculo ao vivo do Lago dos Cisnes, que mais tarde pude ver, me impressionou tanto como aqueles momentos vividos junto ao aparelho de som.

Ainda hoje a música de Tchaikowsky me impressiona, sobretudo o leitmotiv principal dessa suite e o fim trágico dos dois príncipes, que desaparecem dentro do mar.

Ontem, recebi da minha amiga Maria do Céu uma referencia para o Youtube e resolvi colocá-lo aqui para que todos possam ver a maravilha do circo chinês, interpretando uma coreografia do Swan Lake diferente do clássico, em que o bailado é, em parte substituído por ginástica. A graciosidade dos movimentos acrobáticos é extraordinária.



Obrigada, Maria do Céu!

sábado, 20 de novembro de 2010

Tarde calma de outono



Lá fora chuvisca de vez em quando, mas quando as nuvens não estão muito espessas, abrem-se clareiras luminosas de uma cor dourada-prateada magníficas. As árvores saúdam esta luz benfazeja, brilhando em todas as suas gotículas. Uma imagem que se alia ao cheiro característico da humidade entranhada na natureza, só possível nestas épocas de invernia.

O meu neto assobia melodias várias enquanto constrói uma carro em LEGO, bem complexo, com peças minúsculas, que só com uma faca se conseguem separar. Fugiu do irmão mais novo, que não o deixa trabalhar em sossego. É um encanto estar aqui acompanhada desta criança, com os seus sete anos - segundo uma amiga minha é a idade do ouro - cheios de sonhos e auto confiança. Carinhoso, q.b. independente e meigo. Trata-me por Vovó, o que me comove.
Na cozinha, pinto e preparo um assado ao mesmo tempo. Vou-lhe fazer peixinhos da horta, a ver se ele come vagens ( diz que não gosta).
O meu quadro está um pouco gótico, mas hoje enveredei pelo roxo e lilás, cores de que que gosto muito. São invernias também.
Nos intervalos dos assobios, ponho a tocar os Improvisos de Schubert. Maria João Pires no seu melhor.

Quereria guardar estes momentos e metê-los num cofre para os abrir quando, já senil, não puder viver a 100% e os netos já forem grandes , estiverem ocupados e eu rodeada de estranhos. É uma imagem que me assusta.